Laurent

Yves Saint

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O DESFILE ESCÂNDALO DE

Por: Guilherme de Beauharnais
Fotos: Getty Images e Hans Feurer/ELLE França

Quando Yves Saint Laurent apresentou sua coleção Libération, encerrando a semana de alta-costura de verão de 1971, seus anos como "príncipe da moda" pareciam, inquestionavelmente, terminados.

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Os modelos inspirados no guarda-roupa feminino dos anos 1940 escandalizaram as clientes e imprensa que haviam sobrevivido à ocupação nazista na França. As críticas sobre o desfile escândalo, como ficou conhecido, foram péssimas.

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Porém, para uma nova geração desencantada com as velhas convenções e ansiosa por redescobrir a autonomia e irreverência feminina, a coleção Libération foi revolucionária.

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A inspiração veio de Paloma Picasso, filha do pintor espanhol, então, no auge de seus 21 anos. Ela era apaixonada pelo cinema dos anos 1940 e frequentadora regular de brechós e feiras de antiguidades.

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Paloma conheceu Yves Saint Laurent enquanto usava um turbante rosa com plumas cinzas, um vestido comprado na Portobello Road e sapatos plataforma. Seus lábios, pintados de vermelho, conquistaram de imediato o estilista.

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Yves decidiu transformar aquele look em uma coleção de alta-costura. Casacos e blazers de lapelas e ombros exagerados desfilaram junto a vestidos curtos, sapatos plataformas, turbantes e meias-calças em tons vibrantes.

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Uma das jaquetas, de cetim turquesa, combinou motivos de fitas carnavalescas, flores e uma excêntrica rosa dos ventos. Todos bordados com lantejoulas. Os vestidos figuraram em uma série de estampas sucessivamente ousadas.

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Uma versão marmorizada do camuflado, encomendada nos ateliês de Lyon, estampou um vestido em crepe da China. O drapeado ao redor do quadril, enfeitado com uma enorme flor preta, realçava o comprimento reduzido da peça.

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Os últimos modelos desfilados, com desenhos no estilo de antigos vasos gregos, surgiram em dois temas diferentes. O primeiro, que evocava guerreiros em batalha, foi criticado pela infeliz associação com o exército nazista.

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O segundo trazia corpos nus em posições sugestivas, rodeados por folhas de hera (símbolos de Dionísio, deus do prazer e das orgias) e ocasionais pombas brancas (associadas à Afrodite, a deusa do amor).

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O professor e historiador de moda João Braga explica a revolta: "O desfile foi considerado de extremo mau gosto pelas pessoas que viveram os horrores da guerra. A realidade do início da década de 40 era repleta de penúrias."

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À ELLE francesa, Yves disse que a alta-costura "não tem nada a oferecer senão nostalgia e tabus. Como uma senhora idosa. O que importa é que mulheres jovens, que não têm ideias pré-concebidas sobre esses estilos, querem usá-lo".

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Comercialmente, a coleção Libération foi um fracasso. Apenas 304 peças foram vendidas, em comparação com as 729 da temporada anterior. Seu impacto estético e ideológico, porém, transcende sua recepção negativa.

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O nome da coleção, em referência à liberação de Paris do exército alemão, foi ressignificado. Em sua genialidade profética, Yves Saint Laurent libertou a alta-costura do cruel destino da obsolescência.

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