Publicado em agosto de 1945, o livro A revolução dos bichos, de George Orwell, nunca deixou de ser atual – o que não diz muita coisa de bom sobre a nossa sociedade.
Essa fábula política conta a história dos animais de uma fazenda que se revoltam contra o homem, tomam o poder e, em pouco tempo, veem seus líderes chafurdarem em privilégios que antes condenavam – e reprimirem violentamente qualquer forma de oposição.
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Reprodução: Editora Intrínseca
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Volta e meia, Orwell é citado como autor de cabeceira por militantes de direita e até de extrema-direita, que o consideram um arauto do anticomunismo e crítico feroz da esquerda. Calma lá.
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É fato que o livro foi inspirado na Revolução Russa e na escalada autoritária que se viu nos anos subsequentes à tomada do poder pelos bolcheviques. Daí a chamar Orwell, um socialista, de antiesquerdista é desconhecer a biografia e a obra desse autor.
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Passados mais de 70 anos da morte de Orwell, é fascinante (e assustador) constatar como seus personagens poderiam representar tantas figuras atuais. E como governos populistas e regimes totalitários se parecem, seja qual for o espectro político.
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Trocando uma ou outra palavra, os bordões disparados pela bicharada poderiam ser hashtags nos trending topics do Twitter. Em quem serve a carapuça – ou os arreios –, vai da interpretação de cada um. A seguir, conheça ou relembre alguns dos personagens do livro. Contém spoilers.
Um dos líderes da revolução, Napoleão dá o golpe no companheiro de luta Bola-de-Neve já no capítulo 5. Com o passar do tempo, vai se tornando cada vez mais despótico e passa a adotar atitudes humanas, como dormir em camas, fumar cachimbo e tomar porres homéricos.
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NAPOLEÃO
Herói da batalha contra os homens, Bola-de-Neve defendia a ideia de que a revolução deveria se espalhar para outras propriedades da região. É expulso por Napoleão e vira inimigo público. Embora nunca mais seja visto, é culpado por tudo o que ocorre de errado na fazenda.
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BOLA-DE-NEVE
Bom de lábia, o porta-voz é sempre escalado para justificar os privilégios e arroubos autoritários dos porcos. Uma de suas táticas é invocar o nome de Jones, o ex-proprietário da fazenda, expulso pelos revolucionários. "Não quereis Jones de volta, hein?", costuma repetir.
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GARGANTA
Bastante limitadas intelectualmente, as ovelhas têm uma função clara no governo de Napoleão. Ao menor sinal de crítica ao líder, passam a balir incessantemente "Quatro pernas bom, duas pernas ruim!" Qualquer tentativa de diálogo é impossibilitada pela barulheira do rebanho.
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AS OVELHAS
Devotado à causa e trabalhador incansável, o cavalo Sansão segue duas máximas na vida: "Napoleão tem sempre razão" e "trabalharei cada vez mais". A um mês de sua sonhada aposentadoria, ele cai de exaustão e é encaminhado ao matadouro de cavalos.
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SANSÃO
Animal mais idoso da fazenda, o burro Benjamim vê a revolução com descrença e se mantém alheio às disputas políticas. É o primeiro a perceber que Sansão estava sendo levado ao matadouro. Não consegue impedir o sacrifício do amigo e se torna ainda mais taciturno depois do episódio.
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BENJAMIM
Separados da mãe ainda filhotes, nove cachorros são criados sob a tutela de Napoleão e viram a feroz guarda particular do líder. É com a ajuda deles que o porco estrategista dá o golpe em Bola-de-Neve e mantém a bicharada sob controle.
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OS CACHORROS
O corvo domesticado aparece de tempos em tempos para dizer aos animais que uma vida melhor os espera no céu, onde há campos de trevo e bolos de linhaça à vontade. Apesar de não trabalhar, sua presença é tolerada pelos porcos, que ainda lhe dão um copo de cerveja por dia.