Z POP: CHECK ✔

Mais do que batidas repetidas e áudios virais no TikTok, as artistas do pop da Geração Z fazem um som multifacetado, genuíno e afetivo, que viaja a milhão pelo digital unindo pessoas global e localmente.

POR CAROL CARLOVICH

Se o físico e o digital se fundem cada dia mais em uma colisão frenética de nanoinformações, se o mundo que experimentamos através de nossas janelas – físicas e digitais – é compartimentado em tracinhos de 15 segundos, se a crise climática está entre nós e figuras estranhíssimas populam nossos governos, parabéns: você está em 2020.

Nele, a quarentena é real (ou pelo menos deveria ser), o TikTok é eterno enquanto dura e os nascidos entre 1995 e 2010 – com margem de erro para cima e para baixo – reivindicam seu espaço como a primeira geração nativa digital do mundo – os centennials, ou, como a maioria de nós os conhece, a Geração Z.

A Geração Z sucede a X e a Y (os millennials) – e há também a explicação de que seu nome nasceu da expressão em inglês zapping, que nada mais é do que zapear pelos canais da TV sem se deixar prender por nenhum deles. E a etimologia não nos deixa mentir: se a alcunha dada à Geração Z surge justamente de uma metáfora de volatilidade, não é difícil supor que falamos de uma população que foi, em sua maioria, forjada sob a pressão de múltiplos estímulos e acabou desenvolvendo uma percepção mais fragmentada, quase vacilante da realidade.

“Somos a primeira geração que não se lembra bem ao certo qual foi a primeira vez que acessou a internet”, explica a psicóloga e especializanda em terapia analítico-comportamental Clécia Alves Lima, 25 anos. “Crescer com essa constante possibilidade de atualização e acesso irrestrito a pessoas, lugares, culturas e realidades diferentes nos transformou em indivíduos muito plurais, e isso com certeza teve um grande impacto em nossos comportamentos e na forma com a qual nos relacionamos com os outros e também com o mundo”, diz ela.

E esse impacto ressoa em vários âmbitos: nas profissões multidisciplinares, na facilidade de aprender novos idiomas, no estilo fragmentado – ora influenciado pelo Instagram, ora inspirado no guarda-roupa dos nossos avós e, finalmente, nos interesses em produções culturais.

Segundo o relatório The Era of Monomass, feito pela Dazed Media a respeito das tendências comportamentais da Geração Z, esse grupo se autodetermina, acima de qualquer outra coisa, a partir de seus interesses. Quando questionados sobre como definiriam sua identidade, 66% dos Zs citaram seu estilo e 65% mencionaram a música que ouvem.

Já há muito abandonadas, as “tribos” dos anos 1990 e 2000 agora fazem ainda menos sentido. Para os Zs, o mundo se apresenta como uma infinitude de possibilidades estéticas, culturais, profissionais, identitárias – afinal, nada mais justo que cada indivíduo possa ser o curador de sua própria personalidade, colecionando interesses diversos e cultivando uma persona múltipla, mas ao mesmo tempo única.

Culpe ao Troy e à Gabriela de High School Musical, se quiser: na Geração Z, cozinhar, fazer parte do clube de ciências, dançar hip-hop e escrever fanfics longuíssimas são todos traços de personalidade viáveis para uma única pessoa. E que bom.

Dá um Shazam!

Se a Geração Z se define a partir de suas curadorias individuais de interesses e formas de autoexpressão, a música assume, nesse cenário, um papel tão essencial quanto revelador. De acordo com a Culture Next Trends Report, uma pesquisa feita recentemente pelo Spotify, 75% dos pertencentes à Geração Z afirmam que a música ajuda a mantê-los sãos. “Ela tem um papel muito importante no meu dia. Eu acordo já com os meus fones de ouvido e posso fazer as tarefas de casa de forma descontraída, relaxar antes de estudar, encontrar conforto quando estou triste ou dançar quando estou feliz. Ela funciona como um regulador para o meu equilíbrio mental”, conta a estudante Maria Clara Alves Lima, 16 anos, de Taboão da Serra (SP).

Para Maria, cuja banda favorita do momento é a Superorganism, formada por oito membros de nacionalidades diferentes, e que embalou mais de 215 mil vídeos no TikTok, “conforto, liberdade e diversidade” são as palavras que mais definem as produções musicais de sua geração. “Podemos ser compreendidos e nos expressar através de músicas vindas de diversos lugares do mundo”, afirma. E os dados não a deixam mentir: entre os brasileiros Zs ouvidos pelo Spotify, 85% disseram que os serviços de streaming de música oferecem uma porta de entrada para outras culturas, e quase metade desses jovens assume ouvir pelo menos cinco gêneros regularmente, ressaltando o fato de que explorar o que é diferente é incentivado entre eles.

Tocarei meu pop até que me entendas

Dando adeus às barreiras geográficas, às “tribos” culturais e a qualquer outro tipo de etiqueta, faz sentido que a playlist globalizada dos Gen Zs revele também uma fusão de gêneros musicais.

O pop, que já foi delimitado e pré-julgado apenas como um conjunto de batidas repetidas e um refrão contagiante, na mão da Geração Z se tornou o que nasceu para ser: multifacetado, representativo, global e, claro, popular: “O pop sempre teve grandes influências de outros estilos musicais. O que acontece na nossa geração é que, como o acesso a outras culturas é muito fácil por causa da tecnologia, essas pesquisas por ‘novas’ referências acabam sendo extremamente mais acessíveis e poderosas. Isso resulta numa grande versatilidade de elementos harmônicos, rítmicos e melódicos na construção da música moderna”, explica a cantora, compositora e produtora musical de Curitiba Vivian Kuczynski, 17 anos, que lançou seu primeiro álbum, Ictus, para o mundo com apenas 16 anos, sob o selo da Balaclava Records.

Segundo ela, “produzir música pop é sempre um novo desafio porque existe uma infinidade de caminhos que podem ser seguidos, diferentemente de outros gêneros musicais que podem ter suas estruturas ou instrumentação predefinidas”. Nesse sentido, dá para entender por que a Geração Z se identifica e se debruça com tanto afinco na produção da música pop, enxertando nela seus dilemas, referências e multiplicidades. “É natural e muito bonito o processo de ver a música crescendo e se adaptando à sua forma final e, impreterivelmente, ela acaba tornando-se única”, Vivian conta à ELLE.

Honrando o legado de divas como Madonna, Britney Spears, Gwen Stefani, Spice Girls, Rihanna, Beyoncé, Lady Gaga e tantas outras, as mulheres Gen Z que atuam no pop viralizam, sim, nas redes sociais (com direito a coreografia e tudo), mas não perdem de vista a importância e a potência de trazer para suas produções questões pulsantes, tão individuais quanto coletivas, da sua juventude multifacetada: empoderamento, sexualidade, amor, sociedade, pertencimento, identidade, saúde mental, tecnologia, classe, política e tantas, tantas outras.

“É sobre representatividade e respeito”, ressalta Vivian. “As duas coisas andam completamente interligadas e são os maiores pilares da música. Nós, artistas, somos privilegiadas por termos a oportunidade de nos expressar e de virar a voz de milhões de pessoas que se identificam com a mensagem que queremos passar. Música é arte, e arte é comunicação.”

E se você precisava de um incentivo para conhecer e valorizar o que as mulheres da Geração Z têm comunicado ao mundo por meio da música pop, não precisa mais esperar. Ela acontece aqui e agora. De todos os cantos do globo, elas têm revelado a essência instigante e vibrante do que é ser mulher e do que é ser jovem em 2020. Sem mais delongas, conheça a seguir 15 desses nomes potentes – com os quais você ainda vai certamente se emocionar ou dançar no TikTok (ou os dois):


Brasil

Malía

Capa desta ELLE View, Malía, ao mesmo tempo que dispensa apresentações, merece cada uma delas. Com apenas 21 anos e seu flow tipicamente Gen Z – que flerta frenético com a black music, o funk carioca, o reggae e tantos outros gêneros –, Isadora Machado tem conquistado seu espaço como a nova promessa do pop brasileiro.

Criada na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, Malía assume a autoria de grande parte de suas músicas e usa suas letras, seu estilo e sua melodia como uma mistura poderosa de autoexpressão, identidade e força. No ano passado, lançou seu primeiro álbum de estúdio, Escuta, que contou com a participação de artistas como Jão e Rodriguinho.

Sua música é, de fato, um apelo à escuta. Não há quem não pare o que estiver fazendo para ouvir Malía mandando a real em “Mexe”, um dos seus mais recentes singles: “Não é sobre onde você tava/ Sobre não ter nada/ Ser subestimada, para!/ Preta favelada diferenciada/ É sobre o que tu não entende/ É gingado, é gente, é original”. Com um cabelo a cada semana e um pisante a cada rolê, Malía veio avisar que a força do pop das mulheres da Geração Z – no mundo, mas também no Brasil – vem de todo e qualquer canto, acontece aqui e agora, mistura um pouco disso e daquilo e grita: escuta!

Ouve aí: “Flow”, seu último single, é resultado de uma mistura de trap e música brasileira que a cantora definiu como um “trapcal” muito sexy. “Faz uma loucura por mim” é uma versão moderninha da canção de Alcione, que topou regravar o hit ao lado de Malía. E “Dilema”, sobre amores difíceis, conta com a participação do cantor Jão.

EUA

Chloe X Halle

Foto: Robin Harper

Em 2016, com apenas dois EPs lançados, as irmãs Chloe, 22 anos, e Halle Bailey, 20, foram convidadas para fazer uma participação especial na turnê Formation, de ninguém mais, ninguém menos do que Beyoncé.

A dupla, que começou sua jornada no mundo da música postando covers no YouTube, impressionou Queen B de cara, quando tinham apenas 13 e 11 anos. Já em 2018, as irmãs foram indicadas a duas categorias do Grammy: Artista Revelação e Melhor Álbum de Urban Contemporâneo.

Em entrevista ao The Guardian, a dupla admitiu que ingressar na indústria da música com tão pouca idade foi um desafio: “As pessoas nos diziam que o que estávamos criando era muito complexo para o ouvido comum. Acho que não é legal dizer a duas jovens criativas que estão ultrapassando os limites, especialmente quando estamos em um mundo onde tudo é fabricado exatamente da mesma forma”.

Mas, em junho deste ano, o álbum Ungodly Hour chegou para provar que o pop multifacetado da Geração Z merecia ser aclamado: o lançamento ficou no Top 20 da Billboard, e o single “Do It” viralizou no TikTok durante a pandemia – sim, com direito a coreografia típica da rede social.

Suas letras falam sobre a autoconfiança feminina e sobre se divertir e poder decidir o que se quer fazer, mesmo sendo jovem. “Nós não precisamos de validação externa para nos dizer se algo está bom ou não. Eu sinto que estamos em um lugar onde não temos que nos explicar”, contou Chloe ainda ao The Guardian. Elas vão e fazem, simples assim.

Ouve aí: todo o álbum Ungodly Hour. Os vocais suaves e poderosos, as influências R&B e as letras – muitas delas escritas pelas irmãs – são um show à parte da dupla, que também arrasa no aspecto visual dos seus projetos. Não deixe de ouvir “Ungodly Hour”, música-título do álbum, “Forgive Me” e “Baby Girl”.

Noruega

Marie Ulven

Foto: Isak Jenssen

Outro sucesso impulsionado pelo TikTok, Marie Ulven Ringheim, 21 anos, é a cantora e compositora independente norueguesa por trás do projeto “girl in red”, nomeado em homenagem a uma grande paixão de Marie, que usava um suéter vermelho.

Com guitarras despretensiosas, vocais melancólicos e um quê de nostalgia, Marie usa sua música de um modo delicado para contar histórias de amor entre jovens mulheres, falar sobre os dilemas da sua juventude, sobre solidão, tristeza e incompreensão.

Saúde mental é um dos assuntos mais reiterados pela Geração Z, dentro e fora da internet – principalmente em tempos de Covid-19, em que a quarentena trouxe à tona sentimentos como solidão, incerteza e impotência. Não é surpresa, portanto, identificar esses temas também no pop. “Eu acho que nós deveríamos normalizar isso. É normal não estar feliz o tempo todo. Você não se sente feliz e não se sente triste. Você apenas existe e eu acho que é uma coisa boa”, ela disse em entrevista à Rolling Stone.

No TikTok, seu sucesso é tanto que os usuários da rede criaram uma nova conotação para a pergunta “você escuta ‘girl in red’?”. No código Gen Z, isso quer dizer “e aí, você também beija mulheres?” e virou um cantada comum dentro da comunidade. Amor, juventude, mas também tristeza e solidão: no pop da Geração Z, as aflições individuais, de alguma forma, encontram canais para fluir pro mundo – e se descobrem coletivas.

Ouve aí: “we fell in love in october” é o áudio queridinho dos Zs indie do TikTok, mas você também não pode deixar de ouvir “rue” e “dead girl in the pool”, duas obras poéticas e sinceras que expressam algumas angústias do que é ser jovem na Geração Z.

Inglaterra

Griff

Foto: Cal McIntyre

Crescer no interior da Inglaterra com pais imigrantes – da China e da Jamaica – fez com que Griff, 19 anos, entrasse em contato com várias versões de si mesma. Durante sua infância, a jovem cresceu cercada de crianças de diferentes nacionalidades, já que seus pais eram tutores voluntários de um abrigo de menores. Sua música nasce desse solo fértil e múltiplo, que por muitas vezes desencadeou incertezas arrebatadoras na cantora.

Em seu primeiro single, “Mirror Talk”, Griff expõe o caos turbulento de sua mente ao tentar lutar contra suas inseguranças com a força da juventude. Com uma voz melódica e batidas otimistas, esses sentimentos se mesclam e criam um cativante resultado sonoro. Da vontade de se descobrir – e incentivar outros jovens a se olhar no espelho com orgulho e carinho –, Griff tem colhido inspiração e vem conquistando parcerias incríveis internacionalmente, como a dupla inglesa de produtores HONNE e o produtor e DJ russo-alemão Zedd.

Ouve aí: “Good Stuff” pode até parecer uma canção sobre um término, mas ela é dedicada a todas as crianças que passaram pela vida de Griff e deixaram saudade; “1,000,000 X Better” é a colaboração da artista com os produtores de música eletrônica HONNE e vale o muito o play. E “Say It Again” é aquela faixa digna de ser cantada bem alto no chuveiro para espantar qualquer nuvem cinzenta!

EUA

Willow Smith

Foto: Getty Images

Passar a infância e adolescência sob os holofotes da fama parece ser uma experiência muito marcante para todos os jovens artistas que amadurecem em frente às câmeras. Filha mais nova dos atores Will Smith e Jada Pinkett Smith, Willow certamente vivenciou essa experiência à flor da pele, ingressando com apenas 7 anos na indústria do entretenimento. Aos 9, ela assinou um contrato com a gravadora do rapper Jay-Z, a Roc Nation, e debutou na indústria musical com o clipe “Whip My Hair”, que na época foi apontado como um hit irreverente.

Desde então, a artista continuou testando, compondo e produzindo, experimentalmente, músicas que acabaram indo para seu canal do YouTube, Frequencies by Willow Smith. Na descrição da maioria de seus vídeos, os espectadores são convidados a “descobrir músicas que você nunca ouvirá no rádio” – e, de fato, o pop experimental, multifacetado, muitas vezes sombrio e místico de Willow até hoje não alcança as grandes emissoras. Mas, felizmente, o TikTok, sim.

Em 2020, a faixa “Wait a Minute”, de seu álbum ARDIPITHECUS, caiu nas graças dos tiktokers e viralizou na rede, trazendo Willow de volta ao radar da Geração Z. A redescoberta é impressionante: desde “Whip My Hair”, sabíamos que a mais nova dos Smith era um prodígio. No entanto, apenas agora entendemos a grandiosidade e a força feminina aplicadas em suas experimentações sonoras. Talvez a gente é que não estivesse pronto para ela. Mas agora estamos.

Ouve aí: “Wait a Minute”, que é um dos áudios mais virais de 2020 no TikTok, “Female Energy, Part 2”, que é mística, profunda e belíssima, e “Time Machine”, que é nostálgica, tem muitas vozes e, de fato, arrebata e nos leva para outras dimensões, tal qual uma máquina do tempo.

Ouve aí: “Wait a Minute”, que é um dos áudios mais virais de 2020 no TikTok, “Female Energy, Part 2”, que é mística, profunda e belíssima, e “Time Machine”, que é nostálgica, tem muitas vozes e, de fato, arrebata e nos leva para outras dimensões, tal qual uma máquina do tempo.

Zimbábue / Austrália

Tkay Maidza

Foto: Morgan Sette

Original do Zimbábue, Tkay Maidza, 23 anos, se mudou para a Austrália quando tinha apenas 5 anos. Filha de um pai metalúrgico e uma mãe química, Maidza cresceu cercada de música: seu pai também era guitarrista e seu tio, Andy Brown, é um famoso cantor e compositor zimbabuense. Porém foi só no ensino médio que ela encontrou o software de gravação FL Studio em seu computador e começou a gravar suas próprias canções.

Apaixonada por tênis (ela quase jogou profissionalmente!) e formada em arquitetura, Maidza ainda estava na faculdade quando subiu na rede sua primeira faixa, em 2013, com muita influência da Eletronic Dance Music (EDM). Depois de garantir colaborações poderosas com o DJ francês Martin Solveig, Troye Sivan e outros nomes internacionais, Maidza explorou vertentes do rap e do eletropop. “Eu preciso aceitar que nunca serei apenas uma coisa”, ela disse ao site de música Pitchfork.

Hoje, ela se permite explorar todas as referências que fazem sentido para a sua expressão, criando músicas ora sobre relacionamentos repetitivos, ora sobre quebrar expectativas e mostrar a que veio.

Ao falar sobre o que o processo de composição significa pra ela, Maidza confessa que “especialmente durante o COVID, compor é uma válvula de escape para mim, porque eu realmente não falo com muitas pessoas sobre meus sentimentos. Essa é a única maneira de dizer exatamente como me sinto”. A Geração Z entende e agradece, Tkay.

Ouve aí: o clipe megacolorido de “You Sad”, que parece ter saído de uma obra de Takashi Murakami, “Don't Call Again”, a colaboração dela com Kari Faux com uma levadinha gostosa, e “24K”, um exemplo perfeito do que é o eletropop de Tkay Maidza.

África do Sul

Elaine

Neo-soul, R&B e pop são os gêneros dados à música feita pela artista sul-africana Elaine, 21 anos, mas, como boa representante da geração Z que é, ela se utiliza dessas linhas borradas para criar canções multifacetadas que têm ressoado ao redor do globo.

Seu projeto de estreia, o EP Elements, foi lançado em setembro de 2019 e é uma jornada de sete faixas sobre diversos temas, como amor, desilusão e autorreflexão. Mesmo sem grandes recursos ou produtores, o lançamento independente garantiu a ela a posição de artista sul-africana mais tocada do Spotify, com as faixas “Risky” e “You're the One”.

Em agosto deste ano, a cantora e compositora assinou contrato com a gravadora Columbia Records, que promete levá-la ao merecido sucesso global. Pouco a pouco, Elaine vem se apresentando ao mundo como uma potente voz da Geração Z – e não há dúvida alguma de que vai conquistá-lo.

Ouve aí: todas as sete faixas do seu novo EP Elements, mas principalmente “You're the One”, “When We're Alone” e “I/You”. Se você gosta de SZA, H.E.R, Ella Mai e Cia. Ltda., prepare-se para fortes sentimentos de paixão.

Bangladesh / Irlanda

Joy Crookes

Foto: Katie Silvester

Londrina, mas com raízes na Irlanda e em Bangladesh, Joy Crookes é uma contadora de histórias com um som atemporal e emocionante. Em suas canções, ela aborda assuntos como relacionamentos que deram errado, tristeza, cansaço, pertencimento e solidão – e tudo isso se contrasta com o cenário da cultura jovem e imigrante na Inglaterra. Londres, a metrópole global que Joy Crookes chama de casa, exerce um papel muito importante em suas composições e também em suas referências visuais.

Em alguns de seus clipes e capas de EPs, Crookes ainda homenageia deusas hindu e roupas tradicionais da sua herança materna de Bangladesh, mesclando Oriente e Ocidente, identidade e honestidade, atemporalidade e modernidade. Ouvir suas músicas traz uma estranha sensação de longevidade, como se juventude e maturidade fossem apenas dois lados da mesma moeda.

Ouve aí: “Anyone But Me” fala sobre o desafio de viver dentro da sua própria mente e ter que lidar com o seu caos pessoal. “London Mine” é uma canção de amor para Londres, a cidade grande cujas ruas não são feitas para ninguém e que, por isso, aceita a todos. E “Mother May I Sleep with Danger?”, uma música sobre fazer escolhas erradas quando se é jovem, com influências de jazz e perfeita para ouvir aos domingos de manhã.

Coreia do Sul

ITZY

Foto: Divulgação

Que o K-pop é um sucesso universal, todos nós já sabemos. Mas o que você talvez não saiba é que essa indústria, todos os anos, treina, produz e lança vários grupos – com novos conceitos, propostas e apelos para impactar as jovens mundo afora. O quinteto ITZY é um desses novos grupos, composto de Yeji, 20 anos, Lia, 20, Ryujin, 19, Chaeryeong, 19, e Yuna, 17, e que, com apenas um ano de atividade, já vem deixando a sua marca.

O nome do grupo vem de um trocadilho com a palavra coreana 있지 (itji), que significa “ter”, e a frase-conceito em inglês “EVERYTHING YOU WANT IT’Z IN US” (Tudo o que você quer está em nós). E, como para a Geração Z, a idade não é um impeditivo para se autoafirmar e incentivar outros jovens a fazer o mesmo, as meninas do ITZY – que, como era de esperar, arrasam na dança, na música e no estilo – não têm vergonha de ser quem são. Pode até soar como uma afirmação batida e arrogante, mas a verdade é que, para os Zs, poder ser assumidamente você é o verdadeiro hino. Um hino que o ITZY canta em alto e bom som, com muita cor e montação.

Ouve aí: “Dalla Dalla”, o primeiro single das meninas, “WANNABE”, single do EP “It'z Me”, que alcançou a quinta posição no chart World Albums da Billboard, e “Not Shy”, single do mais recente EP, que traduz o conceito do grupo perfeitamente. Dica: os clipes e os figurinos são um show à parte!

Brasil

Vivian Kuczynski

Foto: Livia Rodrigues

Com letras sinuosas, profundas e intensamente líricas, a curitibana Vivian Kuczynski, de apenas 17 anos, compõe e produz desde os 13. “Eu cresci em um mundo digital. Desde criança, tive o privilégio de ter acesso à tecnologia e à informação e isso contribuiu 100% para minha formação”, relata Vivian à ELLE.

Em 2019, seu primeiro álbum, Ictus, veio ao mundo por meio das plataformas digitais, mas o plano de viajar o país com o lançamento foi adiado por causa da pandemia. Nesse meio-tempo, Gen Z e multidisciplinar que é, Vivian usou o isolamento para produzir seu novo e mais recente EP, N ENTENDI ND – uma brincadeira irônica tipicamente jovem de quem contempla as questões abstratas da existência e diz que já entendeu tudo sobre o mundo.

“A definição ‘pop’ para meu trabalho é relativa”, ela ressalta. “Eu produzo tanto músicas pop como outros estilos.” Simultaneamente ao seu trabalho autoral, Vivian também se dedica à produção musical de outros artistas ao redor do país, como Olívia Robell e Francisco Wolf. “Minhas maiores referências de produção no momento são SOPHIE, Flume e James Blake”, revela ela.

Ao ser perguntada sobre se sentir parte da Geração Z, ela diz que certamente esse é um dos principais motivos para que ela consiga trabalhar com produção musical. A voz profunda, tão inquieta quanto serena, de Vivian Kuczynski é a prova de que também há sombra, crítica, lirismo e sobriedade entre as mil e uma faces do pop Gen Z.

Ouve aí: “Brasil”, do seu primeiro álbum, Ictus, é uma crítica ácida e cansada ao cenário político brasileiro, “N ENTENDI ND”, que dá nome ao seu último EP, é uma experiência imersiva às referências eletrônicas e à voz de Vivian, e “PELE”, uma canção orgânica, de carne e osso, bem como digital.

Argentina

TINI

Foto: Divulgação

Nascida em Buenos Aires, Martina Stoessel, 23 anos, ficou mundialmente conhecida por ser a protagonista de Violetta, uma produção do Disney Channel na América Latina que marcou a infância e adolescência de muitos jovens da Geração Z.

Em 2016, ao decidir seguir carreira solo, TINI, como agora é mais conhecida, lançou seu primeiro álbum – com faixas em inglês e em espanhol –, que em poucas horas alcançou o disco de ouro na Argentina, no Brasil, na Polônia e na Áustria.

Hoje, a cantora, atriz e dançarina mistura elementos do pop latino, reggaeton e urban sem medo de cair no estereótipo de suas influências latinas. Pelo contrário, TINI adora incorporar drama, volume, sensualidade e até um pouco de ironia em suas músicas, cujos resultados sinestésicos são sempre coloridos, intensos e muy buenos.

A autoconfiança feminina, bem como o direito de explorar e expressar seus desejos sem vergonha ou medo, é um tema recorrente nas músicas da diva argentina, que cresceu diante da audiência – e junto dela – para se tornar, hoje, uma mulher forte e decidida.

Ouve aí: “Duele”, “Ella Dice” e “Fresa” (e os seus respectivos clipes!) são uma explosão de cores e sabores latinos – do jeito Gen Z – para ninguém botar defeito.

EUA

Billie Eilish

Foto: Getty Image

Aos 18 anos, Billie Eilish incorpora o cinismo, a ironia, a confusão e a irreverência da Geração Z como ninguém. Lá em 2016, ela estreou no SoundCloud com “Ocean Eyes” e desde então foi encontrando seu espaço na indústria da música com vocais delicadamente sussurrados, que trazem à superfície sentimentos pulsantes, muito comuns à sua geração.

Temas como saúde mental, violência, solidão, autoaceitação, redes sociais e até a fama já foram traduzidos por Billie em composições e produções que ela faz em parceria com seu irmão, Finneas O'Connel, 23 anos. Juntos, eles foram nomeados pelo Grammy 2020 como os artistas com maior impacto na indústria no ano passado. Além disso, Billie fez história ao ser reconhecida como a artista mais jovem a ser indicada a quatro grandes categorias do prêmio – e ganhar todas de uma só vez.

Com um estilo excêntrico e díspar de se vestir e se expressar, a artista, hoje considerada a “voz da Geração Z”, faz questão de fazer com que sua autoimagem seja uma declaração de irreverência em uma sociedade que tende a não levar os jovens tão a sério. Partindo dessa descredibilidade, Billie consegue mesclar humor e desdém em músicas viscerais, que expõem explicitamente a raiva, a angústia e a incompreensão de uma geração que também se encontra à beira de um precipício ambiental, ético, político e mental.

Ouve aí: “Bellyache”, um retrato do mal-estar juvenil dos nossos tempos, “everything i wanted”, uma confissão sobre a fama, a solidão e a constante exposição a qual nos submetemos, e “bad guy”, um hino de cinismo e irreverência dado de presente à Geração Z por Billie.

Brasil

Majur

Aos 5 anos, Majur, que nasceu e cresceu na periferia da capital baiana, começou sua jornada musical cantando na Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. Mais tarde, ao lado do coletivo Soul Pretas, a cantora se destacou na cena noturna e foi conquistando cada vez mais espaço – inclusive dentro das redes sociais, que rapidamente impulsionaram seu talento para os quatro cantos do Brasil.

Confluências estéticas e sonoras da MPB, samba, axé e afrofuturismo se encontram e se embolam na música popular de Majur, que é fluida e vibrante. Aos 24 anos, ela já ganhou a admiração de grandes nomes, como Daniela Mercury, Emicida e Caetano Veloso, e promete ecoar ainda por muitos outros cantos com sua multiplicidade e verdade.

Negra e não binária, Majur é também um símbolo genuíno de que a representatividade é a palavra de ordem dessa geração, dentro e fora da indústria musical.

Formada em design visual, a artista compreende como a estética e a semiótica são canais ricos de comunicação, principalmente em tempos de hiperconectividade e superacesso à informação. Por isso, Majur quase sempre se utiliza da moda como um pilar de autoexpressão, tanto em seus clipes e performances quanto em seu perfil do Instagram, para reiterar visualmente uma mensagem poderosa: a de que somos, ao mesmo tempo, múltiplos e únicos.

Ouve aí: “Andarilho”, seu mais recente single, é gostosa e brasileiríssima, “AmarElo” é a emocionante colaboração da artista com Emicida e Pabllo Vittar, com um sample de “Sujeito de Sorte”, de Belchior, e “20ver”, forte, divertida, pop e alto astral, como Majur.

Venezuela / Guatemala / EUA

KAINA

Foto: Mercedes Zapata

Identidade e vulnerabilidade são, para Kaina Castillo, duas faces da mesma moeda que podem e devem reluzir por meio de sua música. A cantora e compositora, que tem raízes na Guatemala e na Venezuela, nasceu em Chicago e começou a cantar por volta dos 8 anos. Hoje, aos 24, ela conquistou um espaço especial na cena musical de sua cidade, abraçando suas origens latino-americanas para falar sobre identidade, pertencimento e multiplicidade.

“O processo de criação do meu último álbum, Next to the Sun, foi realmente útil para me ajudar a ganhar essa confiança e clareza sobre quem eu sou e quem quero ser”, revelou à ELLE. “Por meio desse trabalho, descobri que não preciso me encaixar ou me destruir para entender ou explicar quem eu sou. Eu posso honrar as muitas complexidades e dualidades de ser humana ao mesmo tempo.”

Muito consciente do que é ser uma jovem mulher, e ao mesmo tempo ainda tateando as possibilidades do caminho, Kaina pinta quadros em tons amenos com seus vocais densos: “Acho que muitas mulheres jovens que fazem música hoje são poderosas porque assumidamente se tornaram quem são, produzindo sua própria música ou controlando sua narrativa e autoimagem, e fica muito claro em seus trabalhos que elas são confiantes”.

Ouve aí: “Green”, faixa do seu mais recente álbum, é doce, sublime e tem elementos da Guatemala, da Venezuela e de Chicago, “Could Be a Curse” é a colaboração melódica de KAINA com o artista de ascendência japonesa Sen Marimoto e “La Luna”, uma faixa singela e simples, mas tão linda e misteriosa como o seu objeto de inspiração.

Israel

Noa Kirel

Em 2015, Noa Kirel viralizou com seu clipe Killer. Mesmo que a maioria das pessoas não entendesse sobre o que ela estava cantando – até hoje suas letras são majoritariamente em hebraico –, o vídeo foi visto como “provocativo e indecente demais” à época. Hoje, cinco anos depois, o escândalo é história antiga e Kirel, agora com 18 anos, é um fenômeno cultural que acaba de assinar um contrato multimilionário com a gravadora Atlantic Records.

Irreverente e sem medo de causar, a cantora e dançarina israelense é apaixonada por música desde os 3 anos e se lançou na indústria com apenas 13, com a vontade de continuar fazendo o que ama pelo resto da vida. “Naquela época, a música pop não era tão difundida em Israel como é agora e levou algum tempo para que as pessoas a apoiassem, e também a mim”, disse Kirel à Out Now Magazine.

Grande admiradora das performances de JLo e Beyoncé, a artista insere elementos tradicionais da música israelense em suas produções com muito orgulho. Noa tem quebrado barreiras de língua e cultura e disseminado um discurso de autoafirmação, confiança e juventude que, muitas vezes, é visto como petulância e atrevimento por vir da boca de uma jovem mulher. Sendo talentosa e a maior estrela do seu país, que ressoa internacionalmente, por que ela não deveria se orgulhar de quem é, como sempre fizeram os homens da indústria?

Ouve aí: “פאוץ' (Pouch)” é sua faixa de maior sucesso até hoje e acumula mais de 35 milhões de visualizações no YouTube, “מיליון דולר (Million Dollar)” é perfeita para ouvir quando o VR cai e você se sente milionária e “Drum”, uma de suas poucas – mas incríveis – músicas cantadas em inglês.