Meu querido,
eu sou empresária

Aos 18 anos, Maisa lança sua primeira empresa e coloca mais uma descrição no seu currículo recheado. Nesta entrevista, ela fala sobre como sua carreira, a relação com moda, as redes sociais e seu ativismo estão se desenvolvendo ao entrar na maioridade.

Fotos Pedro Pinho
Edição de moda Rita Lazzarotti 
Direção e edição de vídeo SCOZ
Texto Nathalia Levy

A chegada à vida adulta é um desses momentos na vida em que tudo parece mudar. Seja porque socialmente existe uma grande expectativa de que escolhamos uma profissão, seja pelos diversos pequenos ritos de passagem, como a formatura na escola, a permissão para tirar a carteira de motorista, a obrigatoriedade de votar ou mesmo uma festa de celebração. É como se tudo o que foi vivido antes estivesse nos preparando para o momento de virada. Para algumas pessoas, essa passagem é a grande mudança na vida, mas para Maisa, nossa estrela da capa, elas já aconteceram muitas vezes.

Descoberta ainda na infância em um programa de talentos, a apresentadora-atriz-modelo-influenciadora conquistou o Brasil quando passou a ser o rosto de três atrações dedicadas a crianças no SBT ‒ entretendo o público com sua sinceridade infantil e uma desenvoltura de gente grande. Apesar da imagem de vestido rodado e cachinhos marcados ainda ser a que está na cabeça de alguns, muita coisa aconteceu desde as manhãs do Bom dia & cia. Em 2009, ela lançou um álbum de músicas, em 2012, atuou na novela Carrossel, depois em Carinha de anjo, e fez diversos filmes para o cinema. Criou um canal no YouTube que hoje tem quase 6 milhões de inscritos, virou rainha do engajamento no Twitter e, aos 16, ganhou um programa próprio no SBT, o Programa da Maisa. Nele, entrevistou dezenas de pessoas, entre as maiores celebridades brasileiras, sobre as quais ela diz que não tinha ideia de que eram admiradoras de seu trabalho.

Fazer 18 anos, então, não era exatamente uma grande ansiedade para ela, que já vivenciou diversas grandes mudanças em seus 15 anos de carreira sob os olhos do público. Mas, então, veio a quarentena e tudo mudou. “Logo quando comecei a curtir a ideia da maioridade, quando começou a entrar na minha cabeça, veio a pandemia. Eu tive que ressignificar essa data porque eu estava bem pra baixo, então, surgiu a ideia de fazer a live.” A live, no caso, foi o seu rito de passagem, organizado em 22 de maio, no dia do seu aniversário. Ela foi idealizada para arrecadar fundos para a AACD e também para “fazer as pazes com o passado” ao comentar vídeos de sua infância, que viraram memes e rendem assunto até hoje. “Acho que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Tem sido uma idade muito especial e muito por causa desse episódio da minha live”, diz ela, que também está prestes a lançar o seu primeiro filme original na Netflix. Ela assinou com a plataforma de streaming para diversos projetos e, em 15 de janeiro de 2021, a produção Pai em dobro, que fala exatamente de uma garota que acaba de completar 18 anos e vai viver aventuras, estreia mundialmente.

Na foto grande: bolero e vestido, Dario Mitmann. Brincos, anéis e colares, Eca Boy. Pulseiras, Nuasis x Vênus em Leão.

Com experiência em tantas áreas, empresária talvez fosse o último título que Maisa precisava incluir em sua bio como uma representante do que é ser artista hoje (pense grande e pense em Rihanna e Beyoncé, que carregam esse título também). Esse era um passo que Maisa guardou em segredo por bastante tempo, algo que não quis adiantar porque, como em tudo em sua vida, ela não tem interesse em pular etapas, pois gosta de fazer “tudo sempre aos pouquinhos”, como enfatizou diversas vezes na conversa.

Nesta semana, ela lança a sua agência de influência digital, em que atua como head de comunicação, ao lado de seu sócio e empresário de longa data, Guilherme Oliveira. A ideia da Mudah surgiu porque ambos enxergaram uma lacuna no mercado na relação entre os influenciadores, as agências e as marcas. Maisa é uma das personalidades mais procuradas por anunciantes, que vão de carros a marcas de beleza, e costuma fazer seus públis com a mesma espontaneidade que faz um tuíte. “Todo mundo imagina que eu nasci e com 3 anos já estava fazendo as campanhas que estou fazendo hoje. Mas na verdade foi uma construção e foi a melhor coisa para a minha formação de caráter ter sido tão aos poucos”, diz. Ela pretende usar todos esses anos de experiência e expandir seus serviços para outros influenciadores. “Eu tenho muitos amigos que são artistas e ficam à mercê desse mercado, então, vimos a oportunidade de levar nosso trabalho, que já estava dando muito certo, a outras pessoas.” No portfólio da empresa, ela já conta com Tiago Abravanel, Priscilla Alcântara e Celso Portiolli.

O amadurecimento é constantemente retratado em produções culturais. Existe até um gênero específico para isso, o coming of age, que vem ganhando novas interpretações ao retratar nas telas jovens lidando com o crescimento em uma era de redes sociais e discussões latentes sobre gênero, sexualidade e liberdade. Maisa faz parte dessa geração e não só vive essas inquietações, como pensa muito sobre elas e em como outras gerações vão viver esse momento. De preocupações genuínas sobre como os jovens estão lidando com o TikTok a aprendizados que conseguiu tirar da quarentena, passando pela dúvida da faculdade e de cursos que anda fazendo para se preparar para um mundo que vai precisar cada vez mais de pessoas que vão além da superficialidade, Maisa conversou com a gente durante uma hora sobre este momento de mudanças e experimentações em sua vida.

Na primeira foto grande: blazer e saia, Casa Juisi. Laço e corset, Madame Sher. Camisa, João Pimenta. Anágua, Fernanda Yamamoto. Bolsa, Gucci. Botas, Okoko e Abel. Gravata e meia-calça, Minha Avó Tinha. Adorno, Graciella Starling. Brincos, Joo. Na segunda foto grande: bolero e vestido, Dario Mitmann. Brincos, anéis e colares, Eca Boy. Pulseiras, Nuasis x Vênus em Leão. Meia-calça, Stiff Legwear. Botas, Okoko e Abel.

Chegamos ao fim de 2020. Deu para tirar algum aprendizado pessoal?

Foi um período sem precedentes para todo mundo. Acho que ter sobrevivido, ter passado por tudo isso com uma saúde mental no lugar e ter tido a oportunidade de ficar em casa por meses, já foi um grande privilégio. Acho que o meu maior aprendizado foi a coisa mais clichê e boba do mundo, que é internalizar que a gente não é dono do amanhã. A gente costumava marcar as coisas com meses de antecedência como se soubéssemos, mas a verdade é que nunca soubemos. Eu pretendo levar isso para o resto da minha vida.

O lançamento da sua primeira empresa foi uma dessas coisas que estavam planejadas e foram interrompidas pelo “amanhã”?

Sim! Ela estava superplanejada porque este ano eu completei 18 anos. Eu me achava a dona do meu plano, a dona do amanhã, a senhora do destino. (risos) Quando tudo isso aconteceu, eu me vi tendo que adaptar tudo. Lógico que minha adaptação foi tranquila. Teve gente que precisou se adaptar à maneira de botar comida em casa. Mas de qualquer forma foi um choque para todo o estudo e tudo que a gente já tinha de estratégia. Mas acho que foi bom para não ficarmos acomodados. Como artista, eu também consigo enxergar outras possibilidades no caos e na incerteza.

E de onde veio a ideia da empresa? Como você aparece nela?

Foi uma coisa que eu guardei a sete chaves por muito tempo. Nem os meus amigos sabiam. A empresa se chama Mudah, e o Guilherme Oliveira, que cuida da minha carreira há seis anos, juntamente com os meus pais, é meu sócio. O Guilherme sempre ajudou a gente a expandir nas redes sociais todo o trabalho que eu já vinha fazendo na televisão. Mudah significa “fácil” em malaio, porque a nossa ideia é facilitar esse dia a dia, esse diálogo. Temos operado secretamente e, agora que anunciamos, a galera já vai ter uma noção do que a gente está fazendo e de qual é a identidade que queremos passar. Quando nos contratam para fazer um projeto, a gente se encaixa ali e faz todo o suporte do artista, o que ele precisa, o que a marca precisa dele. Apesar de ter uma rotina muito corrida e de eu ter os meus projetos como atriz e apresentadora, eu estou muito dedicada a esse trabalho.

Você estava ansiosa para os 18 anos?

Sendo sincera, ano passado eu não ligava para fazer 18 anos. Se pudesse, eu queria ter 15 para sempre. Acho uma idade maravilhosa, fui muito feliz nela e gostaria de ter parado por ali. Mas, no início do ano, meus amigos começaram a perguntar se eu ia fazer festa e eu comecei a achar legal a ideia. Comecei a me planejar em fevereiro, e em março veio a pandemia. Ou seja, quando eu comecei a curtir a ideia da maioridade, quando começou a entrar na minha cabeça, veio a pandemia. E daí eu quis ressignificar essa data porque eu estava bem pra baixo, desanimada porque não poderia ver ninguém. Então surgiu a ideia de fazer a live, que foi uma maneira de ajudar outras pessoas, e teve até a Selena Gomez. Acho que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Tem sido uma idade muito especial e muito por causa desse episódio da minha live.

Tem alguma coisa que você estava esperando muito para fazer e que só poderia ser feito com 18?

Falar palavrão publicamente! Eu ficava “não, não quero fazer isso, acho muito agressivo”, mas agora eu falo mesmo. Não tô nem aí. Qualquer coisa eu sou adulta, cuido da minha vida. Eu não poderia dar essa justificativa antes, então agora que eu posso, estou usando e abusando. (risos)

Na foto grande: boá, Rober Dognani. Vestido, Dario Mittmann. Meia-calça, Stiff Legwear. Botas, Okoko e Abel. Luvas, Ão.Algo. Pulseiras, Joo. Anéis, Minha Avó Tinha.

O momento de sair da escola foi confuso para você? Chegou a pensar em fazer faculdade?

Eu sempre fui muito direcionada quanto ao que eu queria da minha carreira. Eu sempre soube o que queria fazer, as coisas que eu queria criar, os meus projetos. Só que depois que saí da escola, no ano passado, eu fiquei pensando: “Será que eu presto vestibular para o segundo semestre de 2020?” Aí veio a pandemia, e que bom que eu não fiz isso. Ainda não vejo o peso de decidir uma graduação ou algo do tipo. Eu quero continuar fazendo cursos até me sentir segura para parar alguns anos e estudar determinado assunto, por exemplo.

Você tem vontade de fazer faculdade, então?

Acho que sim. Faria cinema ou publicidade. Mas penso: será que por estar tão próximo do que eu faço não vou ficar entediada?

Você deve ser um estudo de caso em faculdades de publicidade... 

(risos) Eu tenho uma curiosidade e faria sim. De qualquer forma, pretendo fazer cursos, como os que eu já tenho feito, que eu consiga tocar com a minha carreira. Mas não excluo a possibilidade da faculdade.

Você tem feito quais tipos de curso?

Um não tem nada a ver com o que eu faço, tá? Fiz numa plataforma online da Universidade de Harvard, ele se chama “Humanitarian response to conflict and disaster”. Um curso que não é voltado para nenhuma profissão específica porque médicos, bombeiros, pessoas que estudam sociologia, geografia e relações internacionais fazem. Ele é basicamente para você aprender a lidar com grandes conflitos, guerras e como prover ajuda às pessoas envolvidas. Eu fiz tudo isso pensando na minha live e pensando nos projetos humanitários que eu quero realizar. Eu preciso ter um preparo porque a pessoa que ajuda não pode achar que é só dar uma coisa e ela deixa de ser responsável. Existem muitas questões. É preciso entender a barreira cultural antes de você ajudar. E eu amei estudar isso. Outro curso que eu fiz foi de atuação para cinema, há dois anos, em Nova York.

Preciso fazer um parênteses e perguntar como você aprendeu a falar inglês tão bem? Sempre vejo que as pessoas nos seus vídeos ficam muito interessadas nisso.

É bem engraçado, mas meus pais me colocaram numa escola de inglês quando eu tinha 5 anos. Estudei até os 9 e parei quando entrei na novela Carrossel. Retomei aos 12 em outra escola, me botaram no último nível com outra menina de 12 anos e outras muito mais velhas que a gente, e ficavam nos chamando de prodígio. (risos) Eu me formei no mesmo ano, com 13 anos. Estudei cinco anos no total e nesses outros anos eu consegui manter o meu inglês através de filmes e séries, às vezes viajando. O povo pede mesmo para eu fazer vídeos em inglês, mas eu tenho um pouco de vergonha de as pessoas me acharem esnobe, sabe?

Você se preocupa muito em fazer algo que possa ser mal interpretado nas redes?

Sim, existe a preocupação de acabar ofendendo alguém, com certeza. Mesmo que eu seja muito espontânea, sempre penso que tem certas coisas que a gente não pode falar, algumas que a gente não pode compartilhar, seguir, dar palco. É uma preocupação que eu tenho também, porque às vezes a mídia distorce as coisas que a gente fala, até as coisas mais triviais, do tipo “hoje eu não estou com fome”, e aí transformam isso em uma manchete tipo “Maisa sofre de falta de apetite”. Mas eu tenho uma tática para lidar com isso, que é: sempre que saem essas manchetes, eu e meus fãs zoamos com elas. A gente acaba lidando com isso de uma forma bem-humorada. Assim, eu quebro essa situação de parecer que eu fiquei chateada e vou para a próxima. Tem sido assim desde os meus 12 anos, quando eu abri as minhas redes sociais, e até agora deu tudo certo. Mas se der errado também a gente vai lidar. A Mudah vai entrar em ação e vai ficar tudo bem. (risos)

Vestido, chapéu e colar de tecido com moranguinho, Paula Rondon. Corset, Rober Dognani. Brincos, Pakera Pakera. Colares brilhosos, Sante Acessórios. Bolsa, Guapa World. Corrente (pendurada na bolsa), Gansho. Meia-calça, Minha Avó Tinha. Botas, Okoko e Abel.

Falando em espontaneidade, como você consegue manter a sua com tanta gente te olhando o tempo inteiro?

Eu não sei muito bem como consigo manter minha espontaneidade. (risos) Acho que é mais forte do que eu. Eu sempre falo que eu queria ser uma mulher misteriosa, não queria falar tanto da minha vida, queria esconder um pouco mais para ficar mais interessante. Só que eu não consigo ser assim. Eu saio falando tudo mesmo, e quando a gente vê já está em todos os lugares. Mas não é que eu fale nada preocupante. Eu falo umas coisas bem de boa sobre a minha vida porque eu não me acho muito diferente das pessoas que têm acesso a ela, sabe? Eu estou no Twitter, então, eu quero que as pessoas me enxerguem como uma jovem usando essa rede social. Lógico que eu sei que eu sou a Maisa e tem um interesse, mas eu tenho o direito de reclamar, falar das músicas e das séries que eu gosto como qualquer um. Eu também mantenho a espontaneidade porque é ela que me aproxima dos meus fãs. Nós temos uma conexão e uma troca muito boas. Eu não gostaria de perder isso para parecer uma pessoa mais reservada ou mesmo uma diva. Eu nunca gostei disso.

A comunidade é uma coisa que muitas marcas buscam hoje e você tem uma muito forte com seus fãs, digo, com seus primos...

Muito! E eu não sei se você sabe como surgiu isso dos primos. É uma loucura, porque eu sempre tive os meus fãs, os maisáticos, que são maisáticos até hoje. Mas um belo dia teve aquela coisa da internet de todo mundo descobrir que engajava quando você chamava algum famoso de primo nos comentários, para fingir que era da família. Começaram a fazer isso em todas as fotos das celebridades, e muitas ficaram bravas com isso, porque é um certo tipo de biscoito, né? Só que eu achei tão engraçado que pensei: “Querem me chamar de prima? Então, tudo bem. Agora eu vou ressignificar isso e todo mundo que está me chamando de primo é meu primo e pronto”. Eu comecei a fazer essa brincadeira e não parei até hoje.

Esse é um bom humor que às vezes as pessoas não têm nas redes sociais hoje em dia. Parece que todos têm muito medo, deixam tudo meio frio, calculado.

Eu acho que em rede social a gente tem que tentar não se levar tão a sério, porque o tempo inteiro vão achar alguma coisa de você. Se curtir tal post, você automaticamente é rotulado, colocado em caixinhas. Então, quanto menos você se levar a sério, menos as barreiras vão existir, porque as pessoas vão ver que você riu.

Qual é a sua opinião sobre o TikTok?

O TikTok ainda é uma incógnita para todo mundo. Sabe o que é louco? Eu tenho 18 anos, sou supernova e eu acho que a minha prima de 14 entende melhor o TikTok do que eu. E é difícil viver com uma rede social tão rápida assim. Se eu fico um dia sem mexer, já estou desatualizada. Isso não acontece em outras redes sociais. O TikTok é rápido em ditar o tipo de conteúdo que você tem que fazer e consumir. Então, devo dizer que eu estou me virando nos 30 para saber lidar com isso e para saber lidar com o público, porque é uma galera muito nova e que tem acesso a um tipo de conteúdo que às vezes não é adequado à idade deles.

Eu não produzo mais conteúdo focado no público infantil, mas eu fico preocupada com eles, sabe? Com o controle parental, que eu acho que deveria ser um pouco maior. Com o bullying, que rola desenfreado. A facilidade com que boatos e fake news se espalham! É uma rede social que a gente, como comunidade, tem que usar de uma maneira mais consciente. Às vezes, eu falo sobre isso no Twitter e ninguém me ouve e eu fico “gente, as crianças do TikTok estão chamando o corpo da outra menina de feio com 11 anos, que que é isso?”. Ele é a nova rede social, está dominando e a gente precisa tomar alguma ação para deixá-la mais saudável e menos tóxica para as pessoas.

"Eu tinha uma relação de insegurança com a moda, queria parecer igual a todo mundo, mas fui me permitindo experimentar coisas novas e entender que nem tudo é pra gente o tempo inteiro"

Quando você sente que precisa se posicionar sobre algum assunto?

Tem situações que eu acho que, se eu não tiver estudado, se eu não tiver realmente o que acrescentar, melhor eu não falar. Então, fica por um retuíte, por exemplo, que também é um posicionamento. Eu aprendi isso principalmente este ano, com tantas coisas que aconteceram que às vezes é melhor a gente ficar quieto do que querer ter opinião sobre tudo e acabar sendo indelicado e desrespeitoso com uma coisa que merecia muito mais cuidado. Eu também ouço bastante quando meu público começa a falar comigo, quando me traz algum assunto e, lógico, quando amigos me mandam algumas coisas que eu leio e fico: “Como assim? Vamos avançar, galera”.

Eu busco pesquisar antes de me posicionar também para não ficar numa barreira de superficialidade e falar para likes e retuítes. Acho que a intenção nunca é essa, mas mover realmente alguma coisa. É muito difícil você acompanhar tudo o que está acontecendo no mundo e ter a voz da razão sobre todas as coisas que as pessoas querem que você conheça, porque você vai errar. O que a gente tem que entender como sociedade que está na rede social é que todo mundo está no mesmo barco de poder cair numa fake news. Mas com a pessoa pública há a cobrança de que você não pode errar nunca. Você sempre tem que saber o que dizer na hora certa. Às vezes, a gente vai errar o timing, o assunto. E crucificar a pessoa por tudo vai fazer ela recuar, ela nunca mais vai falar sobre nada e vai virar apenas um rosto ali, sabe? Eu não gostaria de ser essa pessoa.

Na foto grande: camisa, La Maison Démodé Vintage. Colete, Frou Frou Vintage. Luvas, B.Luxo. Saia, Estúdio Traça. Boina e gravata, Minha Avó Tinha. Brinco, Martins. Meia-calça, Stiff Legwear. Botas, Okoko e Abel.

Você acha que a sua geração está realmente mais preocupada com questões sociais, como anda aparecendo em diversas séries e filmes recentes? Você enxerga isso ao seu redor?

Eu acho que sim e não. Sim quando a gente fala sobre determinada bolha que consome redes sociais e cultura pop o tempo inteiro, que lê e que tem acesso a isso. Só que daí, quando a gente para e pensa no tamanho do mundo e no tamanho do nosso país e de outras necessidades que as pessoas têm, há um espaço enorme, um abismo entre esses assuntos e a maioria das pessoas. O que eu tento fazer para mudar isso é passar o conhecimento a que eu tive acesso de uma maneira descomplicada. Passar a consciência e indicar pessoas que são adequadas para seguir sobre determinados assuntos e para nos comprometermos verdadeiramente com as coisas. Parece que todo mundo fica revoltado com o assunto por um dia e, no dia seguinte, ninguém se importa mais. Todo mundo tem que ter uma opinião, mas ninguém tem que tomar alguma atitude? Eu me questiono sobre isso. Mas, respondendo especificamente sobre os meus amigos, sim, eu percebo que a galera está mais desconstruída e mais engajada. Mas, como eu disse, é uma bolha, né?

Eu sei que você gosta muito da Selena Gomez. Por que você se identifica com ela?

Eu acho que por causa da nossa trajetória. O fato de a Selena ter começado tão cedo, criança, fazendo Barney e depois ter ido para a Disney. Eu gostaria que a minha carreira fosse trilhada da mesma maneira que a dela, fluindo entre projetos. Ela cresceu diante das câmeras, mas sempre manteve a essência, e o trabalho dela foi evoluindo. Ela também é uma pessoa discreta na vida pessoal e não se mete muito em polêmicas. Poxa, ela também é linda e maravilhosa. Além de amar a arte dela, ela é uma referência que eu acho bem importante para a nossa geração. Ela está sempre subindo uns debates interessantes através das redes sociais, e eu acho que é basicamente o que eu quero fazer nos próximos anos.

Parece que ser artista hoje é principalmente saber divulgar a sua arte e estar presente em todas as plataformas. Como é isso para você?

Na verdade, é muito natural. Eu acho que as plataformas estão aí para quem quiser usar, quem se identificar, mas não tem que ser uma obrigação. A galera tem que parar de achar que só quem está com muitos seguidores “tá bem na vida”. Não é bem assim. Às vezes, você faz um trabalho muito incrível e não é um trabalho que agrada a maioria das pessoas, que vai ter a maior repercussão. Já passei por isso várias vezes. Para mim, falar do meu trabalho não é um peso, é natural, porque eu compartilho toda a minha vida, então, eu também o compartilho. No fim, acho que todo artista acaba sendo um influenciador, porque ele influencia a vida de muitas pessoas através da arte. E, quando ele decide expor a vida normal dele, como eu exponho a minha, aí ele acaba influenciando em outros aspectos também. Eu gosto de me comunicar e, onde eu tenho alguma coisa para falar, eu vou lá e transformo ou em arte ou em outro tipo de projeto. Eu gosto das possibilidades que as redes sociais dão.

"Eu nunca quis pular etapas com o meu corpo ou com a minha carreira, então sempre usei coisas que eram adequadas à minha idade"

E como é sua relação com a moda?

Ela foi mudando muito, mas é inevitável a importância da moda na minha vida, principalmente para eu chegar até onde estou hoje. Como apresentadora, aos 5 anos, eu já tinha uma referência de moda, que era a Shirley Temple. Todas as minhas roupas no SBT eram inspiradas nos figurinos dela. A moda sempre esteve muito presente na minha vida.

Acho que eu fui começando a ter mais liberdade para desenhar meu estilo com uns 15 anos, porque antes disso eu ficava muito presa a querer parecer com todo mundo com quem eu estudava e com quem eu convivia. Eu tinha uma relação de insegurança com tudo isso, mas depois fui me permitindo experimentar coisas novas e acompanhar algumas tendências, não acompanhar outras, entender que nem tudo é pra gente o tempo inteiro e está tudo bem.

Hoje em dia, eu adoro me divertir com moda e brincar de ser uma pessoa diferente através dos filmes e dos editoriais. Eu acho que essa é uma possibilidade que nos leva a outros lugares. Eu coloco um lookinho e fico imaginando: “Essa menina veio de tal lugar”. Eu amo isso e quero continuar assim para sempre, com essa relação leve, sem cobrança. Acho que as pessoas estão entendendo mais ou menos quem eu sou através do que eu visto, e isso é muito muito legal.

Agora, com 18 anos, você acha que seu estilo vai passar por algum tipo de mudança?

Eu nunca quis pular etapas com o meu corpo ou com a minha carreira, então sempre usei coisas que eram adequadas à minha idade. As pessoas devem ter percebido isso. Agora, com 18, meu estilo vai mudar, sim. Acho que sempre numa crescente, mas sem perder a essência. Podem esperar me ver usando coisas que eu nunca usei, porque estou na fase de experimentar coisas novas, de ir para um lado mais fashion, e estou adorando. Mas sempre aos pouquinhos.

E como anda a sua transição capilar? Por que você decidiu fazer?

Está praticamente completa. Eu aprendi a gostar de texturas diferentes e estou muito feliz de ter podido usar meu cabelo natural em vários trabalhos. A galera tem visto este ano uma Maisa diferente, com outra cara, e o mais legal é poder inspirar outras pessoas. Por meio do meu cabelo, eu vi outras pessoas encontrando a liberdade que eu encontrei. Eu comecei a fazer química com 10 anos, e havia muito tempo que eu estava presa a isso. Eu ficava sem graça de dançar se eu não tivesse com a minha raiz retocada, de suar, de pegar chuva. E como assim, né? Eu sou nova, tenho que aproveitar a minha vida. E aí eu ouvi falar sobre o assunto, vi outras pessoas fazendo e decidi ir deixando meu cabelo crescer e ir cortando. Esse processo já dura uns dois anos e meio, muito tempo. Este ano, decidi fazer o grande corte e deixei sem tintura desde o ano passado. Foi tudo aos pouquinhos, mas eu amei e estou muito feliz com o resultado.

"O que eu quero que as pessoas esperem de mim: não muita quantidade ou certo padrão, mas que elas vejam a minha essência em cada coisa que escolher fazer"

Você tem uma relação importante com o cabelo, né? A sua imagem com cachinhos está muito presente na cabeça das pessoas até hoje.

Quando meu cabeleireiro cortou meu cabelo, ele falou assim: “A gente está ressignificando os cachos da Maisa”. Muita gente se referia a ele como uma referência ruim, “não quero meu cabelo igual aos cachinhos da Maisa”. E está tudo bem, porque elas queriam aquelas ondas de comercial de beleza. Só que os meus cachinhos de criança também não eram meus. Eles eram feitos com babyliss, e agora a gente está descobrindo um formato diferente dele. Meu cabelo é um cabelo que tem ondas, tem alguns cachos também e umas partes lisas. Ele não deixa de ser da Maisa só porque ele não é o que era dez anos atrás.

Você consegue dizer o que você mais gosta de fazer? Produtora de conteúdo, atriz, apresentadora, empresária?

Acima de tudo, eu amo me comunicar. Um filme pode ensinar muito para o outro através dessa história. Um programa de TV ou uma entrevista podem impactar a vida de alguém. Um vídeo, você contando uma experiência sua que pode parecer trivial, pode ser uma luz no fim do túnel para alguém. Eu não quero me limitar. Eu quero continuar fazendo essas coisas enquanto elas fizerem sentido, e sem a obrigação de fazer 30 filmes, por exemplo. O que eu quero que as pessoas esperem de mim: não muita quantidade ou certo padrão, mas que elas vejam a minha essência em cada coisa que escolher fazer.

O que você tirou de aprendizado da sua época de apresentadora?

Eu quero continuar sendo apresentadora para sempre! Foi o primeiro trabalho que tive quando eu era criança, e através do meu próprio programa eu consegui fazer tudo com muito mais autonomia. Eu tive a oportunidade de entrevistar pessoas enormes que eu nem sabia que gostavam de mim, que sabiam quem eu era. Então, toda essa experiência com pessoas vai seguir pelo resto da minha vida. Aquilo que a gente estava falando, de eu querer simplificar alguns assuntos que parecem inacessíveis, vem muito do meu lado apresentadora, porque, enquanto eu estou apresentando, não posso usar todas as gírias descoladas do momento do Twitter ou usar as referências de certa bolha. Eu tenho que tentar democratizar para a galera entender, para eu não parecer inadequada para um tipo de público e nem muito antiquada para outro. Acho que este é o segredo do meu sucesso nas redes sociais: ser uma adolescente que consome redes sociais e ter tido essa experiência como apresentadora. 

Sempre deram espaço a você nos seus projetos, mesmo quando muito jovem?

Teve situações e situações. Acho que, em alguns lugares, as pessoas duvidam de pessoas com idades diferentes, principalmente jovens e, especificamente, mulheres jovens. Acham que a gente não vai aguentar. Mas eu nunca me intimidei com isso, eu ia lá, acreditava no meu potencial e as coisas funcionavam. Por isso, sempre que eu posso, eu impulsiono outras mulheres. Na minha empresa, só tem o Gui de homem. É uma empresa muito feminina, e eu gosto de levar essas mulheres comigo, de estimular o potencial delas. Eu quero continuar fazendo isso com pessoas jovens, principalmente com aqueles que não sentiam que estavam sendo ouvidos ou estavam sendo descredibilizados quando tentavam fazer algo novo.

Você entrou em contato com o feminismo muito cedo, com uns 12 anos, quando a colocaram numa aula de inglês com meninas mais velhas. Como foi a experiência? Você tem vontade de passar isso para meninas mais novas agora?

Eu acho que foi muito cedo, sim, e um superprivilégio. Mas também reconhecer tudo o que o feminismo é, os problemas e as questões, eu acho que é difícil porque é muita coisa ao mesmo tempo para você descobrir tão cedo: que vão desqualificar e não vão acreditar em você por você ser quem você é, por exemplo. E você também precisa se importar com questões raciais, se você não fizer recortes nesse feminismo, ele vai ser superficial, ultrapassado e focado em um empoderamento próprio, sobre entender os seus problemas, sendo que você precisa olhar pro lado.

Eu procuro passar isso para as meninas mais novas. Eu queria muito ter oportunidade de fazer isso no TikTok, mas eu ainda não enxerguei a maneira ideal de falar sobre isso, de levantar esses assuntos lá.

Eu acho que a geração mais nova está tendo acesso a essas pautas ainda mais cedo do que eu tive. Adolescentes e jovens estão superligados em questões de gênero, de raça, de religião, de sexualidade. Eles estão sempre falando sobre isso e sabem que algumas coisas não podem ser ditas. É muito legal ver isso, mas também fico preocupada de às vezes eles não entenderem o porquê de estarem dizendo certas coisas. Eles entendem o que tem por trás? Eles entendem quem sofreu? Quem passou por aquilo? Acredito que eles estão com informação e com um conhecimento enorme, muito mais do que eu tive na idade deles.

"Em alguns lugares, as pessoas duvidam de pessoas com idades diferentes, principalmente jovens e, especificamente, mulheres jovens. Mas eu nunca me intimidei com isso."

Acho que dá para colocar muita esperança nessa nova geração, mas ao mesmo tempo é preocupante pensar o que eles vão fazer com tanta informação, né?

É isso! O que é que vocês vão fazer? Como que a cabecinha de vocês vai aguentar tanta coisa? Como é que vocês vão administrar tudo isso e cuidar de vocês e cuidar do próximo? Enfim, a gente espera e torce com os dedos cruzados.

Você tem outro grande sonho de carreira?

Um projeto internacional. É uma coisa que muita gente me pergunta e que eu acho que seria legal fazer. Talvez um filme, uma série, um programa, um reality, alguma coisa internacional. É uma vontade que eu tenho.

Beleza: Dindi Hojah
Produção de moda: Jeff Ferrari e Vitor Moreira
Captação de imagem e color grading: Fernando Quintais
Produtora executiva: Mariana Araújo
Tratamento de imagem: Thiago Auge
Assistentes de foto: Gabryel Matos e Kiko F.
Assistentes cenotécnicos: Diego Terçarioli e Matheus Terçarioli
Assistente de beleza: Maria Eugenia
Manicure: Roberta Munis Estudios
Assistente de produção executiva: Isabela de Paula