Memórias de um Carnaval

Às vezes, a gente não tem ideia do que aprontou no Carnaval. Ou se lembra, mas faz questão de esquecer. Mas há lembranças carnavalescas que merecem lugar de honra. Aqui, Sabrina Sato, Teresa Cristina, Mariana Aydar e outros foliões contam as suas histórias mais inesquecíveis.

POR BRUNA BITTENCOURT

Sabrina Sato

apresentadora

“Foram vários momentos únicos e divertidos que eu passei, tanto na Sapucaí quanto no Anhembi.

Teve um ano que eu estava praticamente pronta para entrar na avenida. A Vila Isabel desfilava cedo. Como rainha da bateria, vou antes para a concentração. E a minha fantasia era inteira de ferro, dourada. Era uma guerreira, uma gladiadora. E a fantasia arrebentou no meio. Estava com o (maquiador) Henrique Martins, (o diretor criativo) Giovanni Bianco, (o personal stylist) Yan Acioli e todo mundo ficou sem reação. O Giovanni rapidamente tirou a fantasia do meu corpo e saiu correndo, procurando ajuda. E a gente ficou esperando no meu camarim. E aí ele conseguiu um soldador, pintamos (a solda) com um esmalte dourado. (risos) Cheguei linda e maravilhosa para sambar em frente da bateria e ninguém percebeu.

Também na Vila, teve um ano que eu desfilei de Cisne Negro. Inventei uma asa com o Henrique Filho, que faz minhas fantasias há muitos anos. Ela tinha 3 m, 12 kg e abria e fechava por um controle remoto na minha mão. E eu fui para o povo, para o setor 1 e era muita gente me agarrando, me beijando – eu adoro a energia do público. E eu sacudia a asa, abria, sambava. Todo ano, tenho a sorte e a felicidade de desfilar ao lado do Martinho da Vila e da Mart’nália. Nesse ano, logo após o setor 1, no primeiro recuo, minha asa baixou e não subia mais. (risos) A Mart’nália me ajudou, fiquei lá sambando, dando entrevista para a Globo, sem a asa. Na época, namorava o João Vicente (de Castro, ator), que foi buscar a asa reserva – sempre tenho algo reserva – no camarim. A gente colocou essa asa, que era bem mais leve, e deu tudo certo.

Já passei momentos na Gaviões de a fantasia arrebentar e eu desfilar com a mão no peito. Ou de desfilar depois de ser mãe, com o peito cheio de leite, parecendo que vai explodir. Tive que tirar leite antes de entrar na avenida e depois saí correndo para tirar porque estava vazando, esguichando para todos os lados. A Zoe (filha de Sabrina) tinha 2 meses e meio.

Houve momentos de muita emoção nos ensaios, no meio da quadra, na rua, na avenida que eu vou levar para a vida. O ano que a Vila foi campeã foi lindo, único, maravilhoso. Fomos muitos felizes na avenida, sempre, claro, com os perrengues, mas deu tudo certo. Me emocionei demais, chorei muito, sambei demais.

Eu sou muito grata a todo povo do samba no Rio, em São Paulo, em todo o Brasil, já que sou uma filha do coração, adotiva, porque sou caipira, sou japonesa. E eu me encontrei porque Carnaval é alegria. É você colocar seus sonhos, suas fantasias para fora. Sou grata por todas as histórias e só estou começando, pois vou viver muitas e muitas histórias de Carnaval ainda.”

Foto: Divugação/Paulo Troya

“Creio que esta foto que vocês estão vendo seja a da minha primeira fofoca. O primeiro flagra fofocando com minha prima. Esta imagem é muito marcante pra mim, porque minha mãe sempre me vestia de havaiana no Carnaval, mas meu sonho era me fantasiar de odalisca. Todo ano, eu pedia pra minha mãe a fantasia de odalisca. Ela se negava e era mais um ano de havaiana. Na foto, eu devia ter uns 9 anos, então já eram nove anos sendo havaiana. Eu não aguentava mais, e minhas primas sempre iam de odalisca (veja minha prima, na foto).

Foi quando chegou uma prima, que não víamos havia muito tempo, com uma fantasia absurda de linda, e de odalisca! A fantasia era um desbunde, mas não sei como ela não desmaiou sob os 40 graus daquele dia. Quando vi aquilo, foi tão doído pra mim que eu não consegui lidar. Então, na foto estou fofocando com minha prima, com certeza falando mal da outra priminha, que estava com a fantasia que eu sempre desejei.

Hoje, olho para a foto com muito carinho. Ela me faz entender muito sobre como nós, seres humanos, viemos de fato pra amadurecer e, quando falamos do outro, isso diz muito sobre nós mesmos. Eu falei mal da minha prima porque eu queria estar como ela naquele dia. Não consegui segurar, com a infantilidade daquele momento. Engraçado que vejo muito adulto fazendo isso até hoje! (risos) Já deu, hein, gente? (risos)

Tenho um carinho por essa história. Acho engraçada e, ao mesmo tempo, uma coisa muito importante para relembrar: quando a gente se incomoda muito com o outro, se a gente se perguntar bem, é porque no fundo ele faz alguma coisa que a gente gostaria de estar fazendo. E muitas vezes não admitimos isso nem pra nós mesmos.

Essa é minha história de Carnaval. Aliás, alguém tem uma fantasia de odalisca pra me emprestar?”

Foto: Divulgação

Thai de Melo Bufrem

jornalista, por formação, influencer, por acaso

“Creio que esta foto que vocês estão vendo seja a da minha primeira fofoca. O primeiro flagra fofocando com minha prima. Esta imagem é muito marcante pra mim, porque minha mãe sempre me vestia de havaiana no Carnaval, mas meu sonho era me fantasiar de odalisca. Todo ano, eu pedia pra minha mãe a fantasia de odalisca. Ela se negava e era mais um ano de havaiana. Na foto, eu devia ter uns 9 anos, então já eram nove anos sendo havaiana. Eu não aguentava mais, e minhas primas sempre iam de odalisca (veja minha prima, na foto).

Foi quando chegou uma prima, que não víamos havia muito tempo, com uma fantasia absurda de linda, e de odalisca! A fantasia era um desbunde, mas não sei como ela não desmaiou sob os 40 graus daquele dia. Quando vi aquilo, foi tão doído pra mim que eu não consegui lidar. Então, na foto estou fofocando com minha prima, com certeza falando mal da outra priminha, que estava com a fantasia que eu sempre desejei.

Hoje, olho para a foto com muito carinho. Ela me faz entender muito sobre como nós, seres humanos, viemos de fato pra amadurecer e, quando falamos do outro, isso diz muito sobre nós mesmos. Eu falei mal da minha prima porque eu queria estar como ela naquele dia. Não consegui segurar, com a infantilidade daquele momento. Engraçado que vejo muito adulto fazendo isso até hoje! (risos) Já deu, hein, gente? (risos)

Tenho um carinho por essa história. Acho engraçada e, ao mesmo tempo, uma coisa muito importante para relembrar: quando a gente se incomoda muito com o outro, se a gente se perguntar bem, é porque no fundo ele faz alguma coisa que a gente gostaria de estar fazendo. E muitas vezes não admitimos isso nem pra nós mesmos.

Essa é minha história de Carnaval. Aliás, alguém tem uma fantasia de odalisca pra me emprestar?”

Foto: Divulgação

Teresa Cristina

cantora e compositora

“Tem uma memória que eu guardo com muito carinho. Meu pai sempre levava a mim e meus irmãos para as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. A Rio Branco ficava toda enfeitada. Uma das primeiras recordações que tenho dela são os alto-falantes, que tocavam samba. Lembro que uma vez cheguei e tocava aquele samba: ‘Tengo-tengo, santo Antônio, chalé, minha gente, é muito samba no pé’. Era do Salgueiro, de 1972. Eu era muito nova. E acontecia de tudo. Por exemplo, a gente já correu de briga. O Cacique de Ramos e o Bafo da Onça – dois blocos tradicionais cariocas – brigavam muito. Quando eles se encontravam, tinha correria.

Na Presidente Vargas, ficavam todos os carros alegóricos. Depois, assistíamos aos desfiles, todos os anos. E, quando chegava a hora, nossa brincadeira era tentar descobrir e reconhecer os carros que já tínhamos visto (na Presidente Vargas). Isso me emociona muito quando lembro, porque foi algo que me fez amar o Carnaval.

Imagina uma criança olhar um carro desses, com aquelas esculturas lindas. Hoje em dia, quando vemos um, achamos gigante. Realmente, essa é uma das recordações que nunca esqueço. A toda hora, lembro para que não se apague da minha cabeça.”

Foto: Reprodução/Instagram

“Uma coisa muito bizarra que aconteceu no Carnaval foi a estreia do meu bloco, o Forrozin (em 2018), que leva a música nordestina de várias vertentes para a avenida Ipiranga com a São João (em São Paulo), onde o Forrozin sai todas as segundas de Carnaval, às 10 horas. Eu estava muito feliz porque a gente ia receber o mestre Gilberto Gil. Preparamos tudo com muito carinho e fiz meu figurino com as meninas da Amapô, a Carô Gold e a Pitty Taliani. Fui na casa delas, experimentei mil vezes.

Chegou o dia, coloquei o figurino numa sacolinha para vestir no Centro. Cheguei lá, cumprimentei várias pessoas, estava superfeliz, totalmente distraída e deixei a sacolinha no chão. Entrei para o trio. Quinze minutos antes de começar, fui pegar meu figurino e cadê? Não achava. A gente começou a ficar desesperado. Aí lembrei que tinha deixado a sacola no chão, lá no meio de São Paulo.

Começamos a perguntar para um monte de gente e fomos ver as imagens na câmera do Bar Brahma. A gente viu que um morador de rua pegou a sacola. Saíram perguntando para os outros moradores de rua: ‘A gente viu. Passou uma morador de rua com uma sacola e até perguntou se a gente não queria comprar’, disseram. Fiquei muito desesperada. Pensei: ‘Isso deve ter um significado. Não é possível!’. Não havia nenhum outro figurino, nenhuma outra opção. A Pitty estava com um figurino maravilhoso, que ela também tinha feito para aquele momento. Era uma roupa inspirada nos maracatus de Recife. Tinha uma lança, um símbolo muito forte de proteção, de guerreirismo. Como uma grande amiga, ela tirou a roupa pra mim e ainda me deu a lança. Falou: ‘Agora vai, amiga, que vai ser lindo!’. E realmente foi um dia inesquecível, com fortes emoções!”

Foto: Divulgação/Cliparia

Mariana Aydar

cantora, compositora e fundadora do bloco Forrozin

“Uma coisa muito bizarra que aconteceu no Carnaval foi a estreia do meu bloco, o Forrozin (em 2018), que leva a música nordestina de várias vertentes para a avenida Ipiranga com a São João (em São Paulo), onde o Forrozin sai todas as segundas de Carnaval, às 10 horas. Eu estava muito feliz porque a gente ia receber o mestre Gilberto Gil. Preparamos tudo com muito carinho e fiz meu figurino com as meninas da Amapô, a Carô Gold e a Pitty Taliani. Fui na casa delas, experimentei mil vezes.

Chegou o dia, coloquei o figurino numa sacolinha para vestir no Centro. Cheguei lá, cumprimentei várias pessoas, estava superfeliz, totalmente distraída e deixei a sacolinha no chão. Entrei para o trio. Quinze minutos antes de começar, fui pegar meu figurino e cadê? Não achava. A gente começou a ficar desesperado. Aí lembrei que tinha deixado a sacola no chão, lá no meio de São Paulo.

Começamos a perguntar para um monte de gente e fomos ver as imagens na câmera do Bar Brahma. A gente viu que um morador de rua pegou a sacola. Saíram perguntando para os outros moradores de rua: ‘A gente viu. Passou uma morador de rua com uma sacola e até perguntou se a gente não queria comprar’, disseram. Fiquei muito desesperada. Pensei: ‘Isso deve ter um significado. Não é possível!’. Não havia nenhum outro figurino, nenhuma outra opção. A Pitty estava com um figurino maravilhoso, que ela também tinha feito para aquele momento. Era uma roupa inspirada nos maracatus de Recife. Tinha uma lança, um símbolo muito forte de proteção, de guerreirismo. Como uma grande amiga, ela tirou a roupa pra mim e ainda me deu a lança. Falou: ‘Agora vai, amiga, que vai ser lindo!’. E realmente foi um dia inesquecível, com fortes emoções!”

Foto: Divulgação/Cliparia

Pedro Luís

cantor, compositor e um dos fundadores do Monobloco

“Uma história clássica do Monobloco foi quando ele ainda desfilava desde a orla do Leblon até Ipanema. E nosso desfile, por uma questão de acordo de datas carnavalescas, passou para o pós-Carnaval. Só que a gente não se tocou que era a mesma data em que sai o Areia, do Leblon, um bloquinho bem típico do bairro, e o horário coincidia.

O fato é que é que vinham o tsunami que o Monobloco se transformou, muita gente, um arrastão de alegria, e o Areia do Leblon. Enquanto não terminou a festa deles, a gente não pôde entrar na avenida. Era o rato que ruge, aquela imagem do animal que fisicamente parece menor, que mandou a fera, que era o Monobloco, em tamanho, esperar. Quem estava rugindo ali era o rato. Gosto bastante de lembrar disso. É uma das histórias com humor dessa travessia de mais de 20 anos do Monobloco.”

Foto: Divulgação/Thaty Aguiar

“Ano retrasado, minha companheira, Gabriela, estava grávida e, quando a gente fez o primeiro ultrassom, colocaram uma data estimada de chegada da criança para 26 de fevereiro de 2020, que caía exatamente na Quarta-feira de Cinzas.

Já comecei a ficar tenso seis meses antes do Carnaval, porque o Sargento toca todos os dias, no Rio, em São Paulo, em Vitória. A gente viaja Brasil afora, principalmente na semana do Carnaval. Era, claro, uma estimativa de 40 semanas, poderia ser no meio do Carnaval, mas poderia ser uma semana antes ou depois, quando também fazemos shows. Ficamos na tensão se eu iria ter ou não substituto. O Sargento estava comemorando dez carnavais nas ruas do Rio de Janeiro.

No final das contas, ele nasceu na sexta de Carnaval. Quando descemos da maternidade, havia várias pessoas fantasiadas em Laranjeiras. A primeira fralda que comprei na farmácia foi ao som dos blocos ao redor. Pouco antes de ele nascer, a mãe esteve no Cordão do Boitatá. Ele deve ter sentido alguma energia boa e nasceu cinco dias depois.”

Foto: Divulgação

Leandro Donnerr

um dos diretores musicais e fundadores do bloco Sargento Pimenta

“Ano retrasado, minha companheira, Gabriela, estava grávida e, quando a gente fez o primeiro ultrassom, colocaram uma data estimada de chegada da criança para 26 de fevereiro de 2020, que caía exatamente na Quarta-feira de Cinzas.

Já comecei a ficar tenso seis meses antes do Carnaval, porque o Sargento toca todos os dias, no Rio, em São Paulo, em Vitória. A gente viaja Brasil afora, principalmente na semana do Carnaval. Era, claro, uma estimativa de 40 semanas, poderia ser no meio do Carnaval, mas poderia ser uma semana antes ou depois, quando também fazemos shows. Ficamos na tensão se eu iria ter ou não substituto. O Sargento estava comemorando dez carnavais nas ruas do Rio de Janeiro.

No final das contas, ele nasceu na sexta de Carnaval. Quando descemos da maternidade, havia várias pessoas fantasiadas em Laranjeiras. A primeira fralda que comprei na farmácia foi ao som dos blocos ao redor. Pouco antes de ele nascer, a mãe esteve no Cordão do Boitatá. Ele deve ter sentido alguma energia boa e nasceu cinco dias depois.”

Foto: Divulgação