APRESENTADO POR LANCÔME
"Gosto de ocupar espaços que as pessoas não acreditam que eu possa ocupar"
Paola Antonini é a prova de que ser uma ídola não envolve atos de super-heroísmo, mas sim a coragem de ser quem se é. Para isso, a influenciadora e ativista deseja que as mulheres possam traçar seus caminhos com a liberdade de errar e acertar – e pedir ajuda se necessário.
Por Nathalia Levy
Foto: Pedro Napolinário
Edição de moda: Lucas Magno
Beleza: Nathalie Billio
Os posts de Paola Antonini nas redes sociais costumam trazer uma dose de inspiração e de otimismo a quem a acompanha. A influenciadora, que teve sua perna amputada em 2014 e desde então compartilha sua jornada pós-acidente com o mundo, vira de cabeça para baixo, faz dancinhas, está cada hora em um lugar do globo e sempre tem uma palavra de carinho acompanhada de um sorriso para dar a seus seguidores. Por trás dos posts otimistas, no entanto, é importante frisar que existe uma garota consciente, que lida com questões comuns da geração da qual faz parte, como ansiedade, a pressão por estar sempre bem e o desejo de fazer diversas coisas ao mesmo tempo.
Sendo vista por muitos como um exemplo de superação, ela diz que, no começo, realmente tentou incorporar em seu dia a dia a alegria a todo custo. “Eu acabei pegando uma pressão para a minha vida e isso não é bom”, diz ela em uma entrevista feita por Zoom no começo deste mês. Aos poucos, ela passou a procurar o equilíbrio e a entender que se tratar com carinho também envolvia aceitar suas fragilidades. Para isso, buscou ajuda, começou a fazer terapia regularmente e mudou hábitos, como a alimentação. E ainda trouxe para ela a yoga e mais momentos de relaxamento – que podem envolver rituais de skincare, leitura e escrita. “Assumir que a gente não está dando conta sozinha é uma força muito grande”, diz ela.
Aos 26 anos, essa mineira de Belo Horizonte diz que conseguiu realizar muitos dos seus sonhos, como trabalhar como modelo com marcas como Lancôme, iniciar sua carreira de apresentadora e a criação do Instituto Paola Antonini, no ano passado. “Eu tinha esse desejo havia muito tempo. Comecei a visitar crianças em hospitais desde que sofri minha amputação e via o quanto era legal para elas conversar com alguém que também é jovem, que tem uma vida normal e que faz tantas aventuras”, diz ela. Desde aquela época, ela aciona seus seguidores regularmente para conseguir ajudar cada vez mais jovens e passou a destinar parte de tudo o que ganha a esse objetivo. O instituto nasce exatamente para doar próteses, cadeira de rodas e órteses, além de promover a reabilitação com fisioterapia. “Eu quero pegar minha voz e as oportunidades que eu tive para conseguir ajudar outras pessoas. É o que faz sentido na minha vida atualmente.”
Nesta edição da ELLE View, entrevistamos Paola em parceria com Lancôme em celebração ao lançamento de Idôle L’Intense e Lash Idôle. A linha Idôle, que tem Zendaya como rosto, incentiva as mulheres a serem suas próprias ídolas e celebrarem as ídolas ao seu redor. Paola, que é ídola de tantas mulheres, fala abaixo sobre as mudanças que a quarentena trouxe para a sua vida, a sua relação com a beleza, as pessoas que a inspiram e ainda comenta sobre seu primeiro livro, que será lançado neste ano.
Como têm sido seus últimos meses desde que entramos na quarentena?
Eu acabei passando por um momento de muita transformação. Quando começou a quarentena, eu tinha outro namorado e, na primeira semana, ele apareceu lá em casa e terminou comigo. De verdade, isso acabou sendo um presente. Eu sou muito grata porque, a partir disso, comecei a traçar algumas estratégias para ficar bem. Foi uma oportunidade para me conhecer melhor. Eu passei a anotar o que achava de mim, pontos fortes, meus defeitos, o que eu queria em um próximo relacionamento e comecei a fazer algo que me ajudou muito a passar por esse momento: planejamento. Eu tinha uma rotina bonitinha com horário de acordar, de leitura, e acabou funcionando muito bem porque era como os dias passavam mais rápido, eu conseguia render. E assim foi mais tranquilo. Claro que nem todos os dias foram fáceis, eu tive momentos de ansiedade, mas acho que a gente aprendeu a valorizar outras coisas também. É um momento muito difícil no mundo, de incerteza e tristeza. Que a gente possa tirar algumas coisas importantes disso, como valorizar a família, nossa vida e coisas simples da vida.
E você ainda está fazendo a sua rotina do começo da quarentena?
Alguns dias, eu falo que são meus dias off. Não quero ter hora para acordar e eu me permito. Gosto de fazer exercício porque faz muito bem para mim, mas não é todo dia. Tem dia que eu só quero descansar, fazer minhas coisinhas. E eu acho que a gente tem que se respeitar também porque é um momento novo, com o qual não estamos acostumados. É importante ficarmos bem e nos cuidarmos. Por exemplo, passei a fazer terapia toda semana, e isso me ajuda muito. Foi algo que eu trouxe para minha vida da quarentena.
Por falar em atividade física, ela acabou virando um refúgio para muitas pessoas na quarentena. Com você também foi assim?
Eu amo colocar meu corpo em movimento desde novinha. E fiz quase todos os esportes que você pode imaginar, inclusive jogava tênis quando tinha 14 anos e até competia. Acho que, depois do acidente, eu me foquei mais ainda em me movimentar e ir a lugares a que eu não estava acostumada e fazer essas coisas tipo virar de cabeça para baixo. E isso foi muito legal. Muito mais do que pela questão estética do corpo, porque eu não sou nada encanada. Gosto de me sentir feliz e faço pela minha saúde. Recentemente, comecei a fazer yoga por causa da questão da ansiedade. Eu queria trabalhar a minha respiração, colocar o corpo em movimento e também me conectar com a minha espiritualidade. Foi em uma das crises que eu pensei que, se pudesse não começar a tomar remédio, eu queria optar por isso, mesmo que o caminho fosse mais longo. Então comecei a mudar meus hábitos, comer melhor, me exercitar e a yoga era algo que já queria. E ela muda mesmo a visão que você tem da vida. Acho que, em tempos tão turbulentos, que a gente não sabe o que vai acontecer, você aprender a respirar, se conectar consigo mesma é um presente que podemos dar a nós mesmos.
Eu vejo que você usa bastante a palavra oportunidade. Por exemplo, para descrever como lidou com o término do seu namoro e também com o acidente. Você sentiu desde o princípio que poderia tirar algo de positivo dessas situações?
Eu não enxerguei desde o início que aquilo seria uma oportunidade, mas, desde o momento que meus pais me deram a notícia, eu senti uma gratidão muito grande por estar viva, porque eu tomei um susto, né? Com 20 anos, eu poderia não estar mais aqui. Milhões de coisas que eu queria fazer, tantos sonhos que eu queria realizar. E eu pensei: “Ok, perdi minha perna. Amanhã eu posso estar arrasada e só chorar, mas hoje eu não estou. Hoje eu estou grata”. Ali eu consegui pensar racionalmente para passar a viver um dia de cada vez, sem sofrer por antecipação. E eu sabia que aquilo poderia me ensinar muitas coisas e que talvez no futuro eu passasse a valorizar minha vida de forma diferente. Mas eu nunca imaginei que tudo ia acontecer da forma que aconteceu. Na hora, não imaginei que seria uma oportunidade tão grande.
Eu lembro que recebia várias mensagens de “tadinha, ela era tão linda, como vai ser agora?”. Mas desde aquela época eu falava: “Gente, como assim? Eu ainda estou aqui. Estou viva, isso não mudou”. Com o passar do tempo, fui vendo que essa minha forma de lidar com a vida com otimismo e positividade me trouxe muitas coisas boas. E essa foi a verdadeira oportunidade. Eu realizo todos os meus maiores sonhos, consigo ajudar outras pessoas e olho para trás e para mim tudo faz sentido. No momento mais difícil da minha vida, eu consegui transformar aquilo na grande oportunidade de mudá-la, me transformar realmente em outra Paola.
De onde você acha que vem essa sua positividade para lidar com a vida? Você já era assim antes do acidente?
Olha, logo antes de os meus pais virem me contar no hospital que eu tinha perdido minha perna, apareceu uma médica de madrugada no CTI, que me perguntou: “Paola, e se tiverem que amputar sua perna?” Já tinham amputado e eu não sabia, mas eu falei: “Jamais! Nunca, última coisa do mundo. Não quero!” E eu fiquei a madrugada inteira pensando se tinham ou não feito isso. Meus pais chegaram às 6 horas da manhã e me falaram. E minha reação foi: “Ah, tudo bem, graças a Deus que eu estou viva, né?” Houve uma mudança muito grande e eu não sei o que aconteceu. Não sei o que me fez, na hora que os meus pais me contaram, só conseguir sentir gratidão. Mas acho que talvez eu tenha assimilado que realmente poderia não estar mais ali. O susto que a gente toma é muito grande. Eu acho que até as pessoas que conviviam comigo se surpreenderam um pouco. Tinham receio de que eu ficasse triste e viram que isso não aconteceu. Mas, sim, eu sempre fui otimista.
Existiram algumas coisas que disseram no começo que você não poderia fazer e você descobriu que era possível?
Várias, na verdade. Eu queria muito ir à praia, e todo mundo me disse para não ir, que andar na areia ia ser muito difícil. Mas eu coloquei na minha cabeça que ia dar o meu jeito. Eu vim para o Rio e realmente as pessoas estavam certas. Era muito difícil, só que eu consegui. Eu fui de pouquinho em pouquinho, levei vários tombos no caminho, inclusive uma das marcas que há no meu joelho foi desse dia. Mas eu cheguei à praia e foi uma sensação muito maravilhosa. Foi a primeira coisa que me fez perceber que eu consigo o que eu quiser, que posso ir além do que as pessoa estão me falando. Um tempo mais tarde, me convidaram para participar de um desfile. E eu fiquei superfeliz porque, além de eu ser amputada, eu nunca tinha desfilado. Eu sou pequenininha também, tenho 1,61 m. Fui fazer casting, eles me aprovaram, tudo certo. Três dias antes do desfile, todo mundo convidado, minha família, ia ser um momento superemocionante, eles cancelaram minha participação, alegando que estavam com medo que pudesse acontecer alguma coisa, que eu não desse conta de andar na passarela. E eu fiquei muito triste, falei; “Gente, se eu cair, eu levanto. Vai ser lindo do mesmo jeito!” Mas, enfim, é a vida. Tempos depois, eu acabei desfilando e já desfilei várias vezes, e todas foram muito emocionantes. Lembro que no primeiro desfile todo mundo levantou. Foi lindo. Eu não caí, mas se tivesse caído também seria maravilhoso. No geral, constantemente eu me desafio. Eu gosto de ir além, gosto de ocupar espaços que as pessoas não acreditam que eu possa ocupar e eu acredito que eu vou.
Seguir pessoas na internet a ajudou de alguma forma no início?
Eu não tinha tanta referência. Na época que comecei a conversar com as pessoas no meu Instagram, eu não conhecia muitas pessoas amputadas e eu não via muito conteúdo de pessoas amputadas. Eu via os atletas paralímpicos, então comecei a acompanhar esse universo, a ver como as pessoas faziam de tudo, corriam. A surfista Bethany Hamilton, por exemplo, é uma mulher maravilhosa, que teve o braço amputado por causa de um tubarão. Ela foi sim uma inspiração. Tem o Nick Vujicic, que é quadriamputado e é também um cara sensacional. O Fernando Fernandes. Eu fui vendo que essas pessoas estavam fazendo as coisas, então pensei que eu ia também e o que eu não via que eles faziam eu tentava mesmo assim. Se ia dar certo, eu não sabia, mas eu ia tentar.
Como foi quando você percebeu que havia tantas pessoas interessadas na sua vida?
Eu tinha uma vida supernormal, estava me preparando para entrar em uma faculdade de jornalismo e foi tudo meio sem querer. Quando eu comecei a usar minhas redes sociais para falar com as pessoas, não tinha a intenção de começar a trabalhar com isso. Nunca tinha passado pela minha cabeça. A minha intenção era falar para as pessoas que eu estava bem. Mas, à medida que eu ia falando as coisas, elas me voltavam com mensagens muito bacanas e eu comecei a ter vontade de mostrar tudo: meus primeiros passos, quando eu coloquei a prótese, a primeira vez que eu coloquei um biquíni, tudo ia para o Instagram. E aquilo foi acontecendo muito naturalmente, me dando uma força muito grande para fazer coisas novas cada vez mais e mostrar.
Dá para ver que muita gente enxerga você como uma ídola. Você sente algum tipo de pressão por ser um exemplo?
Eu já senti. Querendo ou não, é uma pressão, é uma responsabilidade. A gente está ali, na internet, falando com muitas pessoas e eu me preocupo muito com o que eu falo, principalmente porque sei que há crianças e jovens me acompanhando. No início, eu senti que tinha que estar bem sempre. Porque eu sou muito feliz, muito alegre, mas eu tenho também meus momentos de tristeza, e eu sentia que era importante eu sempre encarar tudo bem. E não era ligar uma chavinha só para as redes sociais, eu realmente levava isso para tudo. Então eu acabei pegando uma pressão para a minha vida e isso não é bom. Mais tarde, eu fui percebendo que respeitar nosso sentimento é muito importante. Tudo bem se sentir mal. O importante é não deixar aquela tristeza ou aquele medo te consumir e eu comecei a falar sobre isso nas minhas redes sociais. Todo mundo é ser humano, então a gente tem que se tratar com carinho, aceitar nossas falhas, nossos dias ruins, e assim fica tudo mais leve.
Recentemente, você fez um vídeo que foi bastante visualizado sobre procedimentos estéticos e cirurgias plásticas. Qual é a sua relação com a beleza?
Minha relação com a beleza é muito tranquila. Quando eu era mais nova, tinha muitas inseguranças com o corpo. Eu tinha muitas estrias nos seios e aquilo tirava minha paz. Até hoje eu tenho e foi depois do meu acidente que eu percebi que isso é uma bobagem. Como a gente deixa coisas tão pequenas tirarem nossa paz, né? Esse aprendizado que eu tive com a minha própria vida eu tento muito passar para as outras pessoas.
Eu achei, alguns anos atrás, que as coisas estavam melhorando. Que a internet estava se tornando um lugar de quebra de padrões, de cada uma se aceitar no próprio corpo. Mas agora temos duas partes diferentes da internet: uma que realmente são pessoas que falam sobre aceitação e outra parte que está ali em busca de um padrão de beleza muito forte, ficando cada vez mais iguais, filtros em todo momento, preenchimento em todos os lugares, e é muito preocupante.
O que eu falo para as pessoas é: “Você não ama o seu nariz? Ele não é o nariz mais perfeito de acordo com o que você acredita? Mas e daí? Você é linda do seu jeito, ele é o seu nariz, ele é só seu, essa é você”. Eu não sou completamente contra os procedimentos estéticos, pois cada um faz o que quiser. É uma opção de cada uma, mas eu sou muito contra e me preocupa você acreditar que vai melhorar a sua autoestima a partir de procedimentos estéticos porque a autoestima não vem daí. Se fosse assim, eu tenho metade de uma perna e ia me sentir bem até minha perna voltar. Então, você vai fazer uma coisa e daqui a pouco você vai ver que outra parte do seu corpo poderia melhorar. E eu acho que isso é muito preocupante. Nem todo dia eu vou estar me achando a mais linda, não, mas eu tenho cuidado com o meu corpo. Eu trato ele com amor e com respeito.
Como você acha que as pessoas, especialmente as mulheres, podem ter uma relação melhor com os estímulos que vêm das redes sociais o tempo inteiro?
Ao mesmo tempo que a internet pode dar para nós muito conteúdo bacana, tem muito conteúdo preocupante. Precisamos escolher quem a gente quer seguir e avaliar as nossas emoções. Como eu me sinto seguindo essa pessoa? Como eu me sinto vendo esse tipo de conteúdo? Está me trazendo mais benefícios ou malefícios? Muito do que a gente vê na internet não é real e temos que falar muito sobre isso. A vida de contos de fadas não existe para ninguém. Então, primeiro, tente tirar isso da sua cabeça e se alguma coisa está te fazendo mal, corte ela. Escolha ver coisas que te façam bem.
Garotas cada vez mais novas estão fazendo procedimentos influenciadas pelas redes sociais e, muitas vezes, sem nunca terem realmente se preocupado com isso, né?
Sim! Amigos já chegaram para mim falando “nossa, se você colocasse boca você ia ficar tão linda, ia te dar um tchan”. E sempre respondo que está tudo certo com a minha boca, está tudo bem. Mas eu recebo mensagens de meninas de 10 anos falando que não gostam da barriga, não gostam do seio. São crianças que, em vez de estarem se preocupando com algo tipo brincar com os amigos, estão com vergonha do próprio corpo. Estão comparando o próprio corpo com o que elas veem na internet, com aquele tanto de foto. E isso é muito preocupante.
Nos últimos anos, houve alguns avanços quando falamos de representatividade de mulheres com corpos mais diversos na publicidade, na mídia e no entretenimento. Você acha que estamos no mesmo lugar na representação de pessoas com deficiência?
Acho que houve avanços, isso é inegável, mas um avanço que vai ali devagarzinho, né? A gente vê várias campanhas com mulheres diversas, com corpos diversos, e isso é muito importante, mas a gente sente falta da pessoa com deficiência. Às vezes, temos em uma novela uma atriz que não tem deficiência representando uma pessoa com deficiência. Por que não dar uma chance para a pessoa que tem uma deficiência? Se não tem uma atriz tão boa quanto a outra, é dando uma oportunidade que a pessoa pode se tornar muito boa. Então, há um avanço. Eu, por exemplo, sou muito grata porque eu faço várias campanhas, eu viajo para todos os lados, faço trabalhos para várias marcas e eu me sinto muito feliz de estar trabalhando e estar representando as pessoas com deficiência. Mas acho que ainda falta muito nas revistas, na televisão, na própria moda. Às vezes, as pessoas nem pensam que a roupa para uma pessoa cadeirante, por exemplo, é legal que tenha velcro, mais fechos. É importante falar sobre isso.
Houve uma mudança na sua relação com a moda após o acidente?
Sim, eu adoro moda. Mudei a forma como eu me visto depois porque agora eu uso muito mais shorts, saia. Eu não uso calça porque ela realmente limita o movimento da minha prótese e também porque eu gosto da minha perninha aparecendo. Sinto que fica faltando alguma coisa se não tem uma perninha brilhante ali. Então, sim, houve uma mudança, mas eu ainda consigo ir a uma loja qualquer e comprar praticamente todo tipo de roupa. Mas eu vejo que faltam opções para pessoas com outros tipos de deficiência, como cadeirantes. Poucas pessoas pensam na importância de fazer coleções que realmente deem para todo mundo usar e que incluam pessoas com deficiência. Eu fiz parte da campanha de uma coleção dessas no ano passado, mas devia ter muito mais, né? Devia estar em todas as lojas.
Ainda existe o problema de ser só uma, né? Só uma coleção, sempre a mesma modelo em todos os lugares...
Exatamente isso. Não é só sobre uma campanha. E a inclusão hoje em dia é algo muito bom para as marcas, inclusive. Eu vejo que as que colocam pessoas diversas em suas campanhas acabam sendo mais bem recebidas. Mas, claro, para ser legal de verdade, tem que levar para a vida, e não só pensando em resultados, mas pensando nas pessoas.
Nesses seis anos, desde que você começou a compartilhar sua jornada pós-acidente, quais foram as pessoas mais inspiradoras que cruzaram o seu caminho?
Se hoje eu estou realizando todos os meus sonhos é porque eu tive muitas pessoas que passaram pela minha vida e me ajudaram. Não tenho como não falar da minha família, que foi primordial para tudo isso acontecer, e minhas amigas também. Ter essa base no início foi essencial. Minha mãe, principalmente, que ficou comigo todos os dias no hospital. E vou falar da Fátima Bernardes, que eu adoro, e ela me ajudou muito. Primeiro porque eu a admiro pelo trabalho dela. Ela é apresentadora e eu sonho em ser apresentadora. Fora eu admirar isso nela, bem no início, dois meses depois de sofrer o acidente, eu fui ao programa dela. Muitas pessoas me conheceram a partir daquele programa e ele me abriu inúmeras portas. Se teve um dia que a chavinha virou, acho que foi ali. Ela é uma mulher em quem eu me inspiro muito para o futuro.
Quem são as ídolas da sua vida?
Eu tenho algumas ídolas. Minha mãe é uma delas, claro, por toda a dedicação, por ter conseguido dar conta de tudo, por toda a coragem e, ao mesmo tempo, muito amor e cuidado com todos os filhos. Ela é uma pessoa em quem eu me inspiro. Eu também admiro muito a Michelle Obama. Li o livro dela e me encantei pela mulher que ela é e por tudo o que ela conquistou. Eu a levo como exemplo. Tem a Oprah, já que o meu grande sonho é ser apresentadora de um programa na televisão. Ela é com certeza alguém em quem eu me espelho. E uma pessoa muito importante na minha vida, de quem eu pego vários ensinamentos, é a Gisele Bündchen. Depois que eu li o livro dela, falando sobre ansiedade principalmente, sobre como ela lidou com isso, ela virou uma fonte de inspiração. Por mais que não saibam, elas me inspiram bastante.
Além de ser apresentadora, existem outros sonhos que você quer realizar?
Eu falo que realizei quase todos os meus sonhos e ser apresentadora é um dos maiores deles. Ano passado, eu apresentei um programa de basquete e foi muito bacana. Eu quero seguir trabalhando com a internet, que eu amo, e continuar apresentando no futuro. Também tenho um sonho que é ser mãe, mas não agora. E tinha o de abrir meu instituto, que eu acabei criando no ano passado. Ah, e meu livro, que vai sair este ano!
Sobre o que vai ser?
Acho que sou muito nova para escrever uma biografia, então pensei em contar um pouco do que aconteceu comigo e alguns aprendizados. Falar na prática como tudo acontece e mostrar algumas partes mais frágeis. As pessoas viram quando eu cheguei lá, mas o caminho não foi mostrado totalmente. As dificuldades, os momentos em que eu não estive bem. Acho que vai ser um livro para mostrar minhas fragilidades, algo que eu tenho muita vontade de fazer mesmo, mostrar que nem sempre tudo são flores. Eu comecei a escrever na quarentena e estou quase acabando. Estou colocando meu coração de verdade, contando tudo o que eu consegui pensar sobre a minha vida.
Você sempre gostou de escrever?
Amo. Escrever foi uma forma que eu encontrei desde nova de colocar meus sentimentos para fora. Se eu não estava me sentindo bem, eu pegava um papel e escrevia. Hoje, é no bloco de notas mesmo. (risos) É uma forma de me sentir melhor.
Existem outros recursos que você utiliza para se sentir melhor? Por exemplo, rituais e produtos que fazem parte de uma rotina de autocuidado?
Alguns hábitos, eu tenho há bastante tempo, como beber 1 litro de água de coco todos os dias. Acho que faz muito bem para a pele e para nós mesmas como um todo. Gosto muito de tomar um solzinho em casa. Além de ele ser uma fonte de vitaminas, eu realmente sou uma pessoa muito do sol. Desde o ano passado, também criei uma rotina muito bonitinha de skincare, de autocuidado. Acho que dedicarmos um tempo para nós mesmas, nos cuidarmos, é um ato de autoamor de verdade. Então, pelo menos uma vez por semana, faço máscara para o cabelo e máscara facial e me divirto. Todos os dias antes de dormir, eu tiro a maquiagem com o Miel en Mousse, da Lancôme, e todas as noites eu passo o Génifique, que é um sérum maravilhoso. Mesmo para ficar em casa nestes tempos em que estamos vivendo, eu gosto de passar uma maquiagem, um perfume. Tenho dois queridinhos: um é o La Vie Est Belle e outro é o Idôle.
Ao longo da conversa, você falou bastante sobre terapia, questões de ansiedade...
Na época do acidente, eu não fiz terapia, enfrentei tudo sozinha. Resolvi que eu queria fazer há quatro anos e acho muito importante cuidar da saúde mental. Em 2019, eu estava viajando muito, dormindo mal, diária atrás de diária, voos internacionais. E aí, depois de um dia todo gravando, eu tive uma crise de ansiedade grave, fui parar no hospital aqui, no Rio. Aí eu me assustei. Meu coração começou a bater muito forte, comecei a ver tudo escuro, comecei a tremer muito. Nunca tinha tido, não imaginei que era desse jeito. Eu tive mais alguns episódios e vi que eu realmente precisava me cuidar. Não adiantava nada eu estar realizando todos os meus sonhos, viajando o mundo inteiro, se eu não estava bem. Então eu dei uma parada no meu trabalho, dei uma relaxada, diminuí um pouco as viagens e decidi mudar meus hábitos, alimentação, esporte e terapia. Para ajudarmos as outras pessoas, temos que estar bem. É muito importante falar sobre a saúde mental atualmente. A ansiedade e a depressão atingem muita gente, principalmente jovens. Até eu, uma pessoa superpositiva, já tive e não é feio pedir ajuda. Pelo contrário, é muito lindo e importante. Assumir que a gente não está dando conta sozinha mostra uma força muito grande.
É realmente uma questão grande para a nossa geração. São muitos estímulos.
Nunca uma sociedade teve tanto estímulo a todo momento. São muitas coisas ao mesmo tempo. Terapia, yoga, dançar, o que te fizer bem vale! Temos que encontrar coisas que nos tirem desse mundo acelerado.
Por fim, neste mês de março, gostaria de saber qual é o seu maior desejo para as mulheres?
São tantas questões, né? Mas acho que é isso, não é fácil lidar com tudo. As coisas não são fáceis sempre, e a gente tem que ter paciência, tem que se tratar com amor. Muitas vezes, aconselhamos nossas amigas, mulheres que amamos, com palavras de amor, mas não temos essa paciência e esse amor com nós mesmas, com as nossas falhas. Não temos que dar conta de tudo e nem sermos fortes sempre. Entender nossas vulnerabilidades, nossas dificuldades. Às vezes, é difícil a gente ver o lado positivo nos momentos difíceis, mas, falando pela minha história, tentar tirar algo positivo daquele momento faz toda a diferença na vida. Talvez você não entenda agora o porquê de aquilo estar acontecendo com você, mas vai entender um dia, com certeza.
Também falaria sobre o corpo. No mundo de hoje, é muito importante a gente olhar para o nosso corpo e entender como somos lindas e que a gente não deve se comparar a ninguém. Eu sei que na internet, a gente fica ali com vários estímulos, mas a nossa beleza não está ligada a fatores estéticos, a ter um corpo ou cabelo perfeito. A nossa beleza está ligada a sermos quem somos, quanto mais autêntica você for, quanto mais você se amar, mais linda as pessoas vão te achar. E o primeiro passo é a gente olhar para as nossas cicatrizes, cada pedacinho nosso, e saber que só a gente tem isso, só a gente tem essas particularidades. Que a gente faça esse exercício, e nem sempre vai ser uma linha reta, mas a tentativa é muito especial. Acho que nunca falei sobre isso, mas às vezes eu estou tomando o meu banho e eu olho para a minha perna amputada e eu falo: “Obrigada, perninha. Nada disso estaria acontecendo se não fosse você. Se hoje eu tenho tudo o que eu tenho foi graças a você”. Agradeço mesmo a ela. Esse tipo de coisa, falar palavras de carinho para nós mesmas, é o mais importante. Não buscar isso de outras pessoas, mas buscar esse carinho e amor da gente.
Na primeira foto: luvas Bruno Muniz Atelier, anéis e brincos Vivara. Na segunda foto: short e top ambos Koia e anel Sara Jóias. Nas demais fotos: vestido Koia, brincos e pulseira Sara Jóias