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pós-fama com
Esse Menino

Em um mundo que estar na boca do povo não depende mais de aprovação de uma grande emissora ou gravadora, como é sentir na pele a transição repentina entre o anonimato e a fama? O humorista Esse Menino, que viralizou com o vídeo da "Pifaizer" (uma esquete que conseguiu resumir a forma como o governo brasileiro lidou com a pandemia), conta para a repórter Isis Vergilio em áudios.

Por Isis Vergilio

Confira a conversa Leia a transcrição aqui
Alô, quem fala?

Diga lá, ELLE! Hm hm hm, mas eu tô fina, Ave Maria. Aqui quem fala é Esse Menino. Eu tenho 25 anos e moro atualmente em Belo Horizonte, Minas Gerais!

Já são mais de 15 milhões de visualizações no seu vídeo. O Brasil está apaixonado por você. Mas você não começou com esse vídeo da Pifaizer, né?

Então, gata! Eu comecei no finalzinho de 2018, foi bem perto das eleições, inclusive. Deus que me livre e guarde. Comecei assim, postando vídeo no Instagram e no Facebook ao mesmo tempo, comecei os dois me cagando inteiro de medo. Eu estava apavorado porque já saía por aí contando para Deus e o mundo que eu queria ser comediante e tal, que eu tinha umas ideias, que eu tinha uns roteiros, umas esquetes, umas piadas. Já me falavam que eu era engraçado, aquela onda, mas eu tinha medo de começar e descobrir no meio do caminho que eu era ruim. Então, fui fazendo, passinhos lentos, mas foi rolando. O primeiro que eu postei meio que bombou e eu fiquei bem surpreso na época porque era um vídeo sobre a cena techno de BH que é bem forte, é bem massa até. Enfim, várias outras cenas techno de outros lugares foram se identificando, e foi um vídeo que deu uma bombada na época. E aí, eu fui, a partir disso, fazendo de outros assuntos que eu tinha na cabeça que estavam acontecendo. Foi assim, comecei na intenção de exatamente achar o meu público, descobrir quem era a galera que curtia as minhas ideias e que achava graça de mim e ria comigo, foi assim dando a cara a tapa nessa pegada aí!

E você sempre quis trabalhar com internet?

Menina, desde que eu entrei na internet, que eu fiz o meu primeiro login, que eu não lembro onde foi, possivelmente MSN ou Orkut, sempre tentei usar a internet para fazer graça, mesmo que na época eu não tivesse a noção de trabalhar com isso. Eu já queria, mas eu não sabia nem por onde começar. Eu sempre fui nessa onda. Meus depoimentos eram sempre engraçadinhos ha ha ha e as minhas comunidades eram uma mais doidona que a outra. E no MSN eu ficava fazendo graça, aquela onda… Eu nunca vi na internet um espaço para eu expressar todas as minhas dores, tudo que me preocupa, igual tem uma galera que precisa fazer um Stories chorando. Eu nunca fui assim, nunca tive muito essa onda. Eu sempre olhei como um lugar para fazer graça e acabou que, em um certo momento, fazer graça virou minha profissão. Então, quando eu entendi isso, que a internet tinha essa capacidade de unir o meu público, eu falei, putz, se eu já mexia nela meio distante e não me envolvia tanto, não botava meu coração na timeline da galera, eu pensei: "Ah, acho que trabalhar, que isso aqui, vai ser massa! Vai fluir". E fluiu! Olha aí fluindo, não é não?

Muita gente que cria conteúdo para a internet sonha com esse momento de viralizar. Conta pra gente. Já deu pra sentir um antes e depois?

Gatinha, essa pergunta você vai ter que me fazer daqui algumas semanas porque está acontecendo agora. O antes e o depois tá misturado, tá tudo agora. Porque eu, no momento, estou, possivelmente, no meu terceiro dia de viralizado, pode-se dizer assim, e tá uma doidera, tô bem perdido, tô bem desorientado. Por favor, mande ajuda! Eu não sei o que te dizer. Assim, eu achava, na minha humilde cabecinha, que eu já tava mais ou menos um pouco famoso, já tinha uma galera, uns outros artistas que já estavam me reconhecendo. Eu recebia umas mensagens massa, já tinha uma galera que, né? Diz que é meu fã, e eu não vou falar que você não é. Né, galera? A pessoa fala que é, eu falo "ok, você é meu fã!" Então, tava rolando assim, tava acontecendo, eu tinha 40 mil seguidores no Instagram, aquela onda, achando que eu estava abalando. Pensa que não, ela inventa de falar PIFAIZER umas três vezes no vídeo e tamo aí agora. Neste exato momento, eu estou com 517 mil gente doida me seguindo no Instagram, é isso! 12 milhões de views no vídeo. Aí, olha Ísis, pelo amor de Deus, eu não sei (gritando)!

Só continuando essa resposta, o que mudou no meu trabalho é a minha caixa de e-mail. Posso te dizer que tá assim, pipocando de mensagem. Eu nunca recebi tanto e-mail antes na minha vida, então assim, hahaha! Isso tá rolando e eu tô agora aqui tentando traçar um plano para ver como eu vou administrar. Como eu vou conseguir ser fiel ao ritmo que eu tinha. Porque eu nunca fui muito de postar o meu dia a dia, postar: "Oi, galera, bom dia!". E depois continuar o dia inteiro. Eu nunca fui disso, sempre cheguei falando com a galera que postei um vídeo ou, então, quando tinha uma gracinha para fazer que eu não achava que merecia ir pro feed eu fazia lá (stories). Era meio assim. Então, eu tô aqui tentando ver como é que eu vou fazer hoje. A galera quer mais, a galera quer toda hora: "Vambora, gatinha! Faz graça pra nós!". E aí, eu tô aqui, meio que vendo como eu vou ter esse jogo de cintura. Mas é propostas mil e confusão. No momento, tá sendo isso que eu posso te dizer sobre o que mudou. E também as carimbadas, cheio de gente verificada batendo papo comigo na DM, mas aí é aquela coisa, né? Não quero também ficar metida aqui jogando na cara de ninguém que sou amigo de Letrux e tal, aquelas.

Como é ficar famoso?

Considerando que eu fui uma bichinha ousada e saí do armário com 13 anos numa cidade do interior de Minas, eu posso te dizer que eu já me sentia famosa hahaha! Todo lugar que eu ia a galera olhava. Tinha as festinhas de 15 anos e eu ia toda no look, usando um vestido, e os outros meninos, sei lá, igual uns padres. E ela toda na cintura alta, e tal, aquela coisa. Então, a sensação de famosa tava aí. E aí, depois, eu vim para BH, os vídeos começaram a acontecer e sempre vinha uma pessoa ou outra falar: "eu te acho muito massa!". Teve um Carnaval que eu fiz um vídeo também, que rodou bastante, correu bastante em BH. E aí, durante o Carnaval, a galera veio falar desse vídeo. Eu era meio reconhecido, aquela coisa e tal. Mas assim, tudo caiu por terra, né Isis? Porque agora, com tudo que está acontecendo, eu tô até com medo, eu não sei como é, eu não sei como é sair na rua, não chegou acontecer assim para mim. O que está validando essa fama são os números e as minhas redes sociais, meu celular e o tanto de primo que eu não sabia que tinha e apareceu agora. Enfim, é isso. Essa interação para mim que tá sendo um marco de fama, interação de pessoas, interação de artistas que eu admiro, interação de marcas (aquela grana e tal, risos). É isso!

São muitas emoções, né? O que você sentiu na hora que percebeu o que estava acontecendo?

O que eu senti? Piriri, gangorra, dor de cabeça, a mandíbula deu uma travada. tensão. O que mais? Tesão, senti um leve tesão, passou logo depois. Agora eu estou com disfunção erétil, calvície, o meu cabelo está caindo todo de estresse. Preocupado, ao mesmo tempo, esperançoso. Toda hora eu arrepio. Acho que agora eu acredito em signo, que era uma coisa que eu gostava, mas não era 100% fiel. Mas agora me falaram que eu postei o vídeo no dia do eclipse, então agora esse eclipse rege a minha vida. É um mix, é um mix de emoções, viu? Se você quiser me dar o diagnóstico, um remédio, alguma coisa, uma dica, eu quero!

Quanto tempo demorou pra cair a ficha?

Quanto tempo? Vixi. É, quantas horas são agora? 20:23? É, eu acho que qualquer hora vai bater, ainda não bateu não (risos). Tem horas que eu acho: Agora eu entendi! Mas depois eu falo: "É, não". Aí chega uma mensagem de Juliette, e aí eu falo: "É, não entendi, não. Peraí, me dá mais um tempo". Qualquer hora dessa, se bater aqui eu te aviso, viu?

Qual tem sido a parte boa de toda essa experiência?

Ai, essa é aquela hora que vai ficar emotiva. Até engasguei, vai ficar emotiva essa entrevista. Mas o que eu recebi de melhor foi uma mensagem de minha mãe muito linda. A gente tem uma relação meio Tom e Jerry, eu a amo muito, ela me ama muito, mas a gente, às vezes, desencontra em algumas ideias. E essa questão de ser artista para ela sempre foi um conflito porque ela é mãe, aquela coisa. Sente medo, fica angustiada com o que pode acontecer, se não der certo, e aquela coisa toda. E, se der certo, como vai ser quando der certo? Eu, ainda por cima, fui inventar não só de ser artista, mas fui inventar de ser ser humorista, quer dizer? É pior ainda (risos). Não dá pra ter uma previsão de nada que vai dar certo e tal, um papel principal numa novela, não tem. E aí, ela me mandou uma mensagem muito linda, falando que ela sempre acreditou em mim e isso, realmente, eu sempre soube. Ela abriu o coração dela, eu abri o meu e foi muito bom.

Agora de ruim, aí minha filha, por onde eu começo? Não, mentira, brincadeira, não teve nada não até agora. Eu acho que o que seria uma coisa ruim, seria isso: como algumas pessoas que eu amo, que eu gosto, estão preocupadas de verem algumas mensagens homofóbicas chegando, né? Esse vídeo meu que estourou é um vídeo que, diretamente, fala da relação do Bolsonaro, aliás, da falta de relação do Bolsonaro com a pandemia. Então, muitos apoiadores dele vieram encher o raio da minha paciência, e também tem pessoas que simplesmente não foram com a minha cara. E aí, as pessoas que gostam de mim, que são do meu ciclo, ficam querendo me proteger e ficam falando: "não, ele é bom sim!" É engraçado porque eu não me preocupo com isso. Mas é a relação deles com essa situação, e eu estou validando, falando: "Não galera, não se preocupe, tá tudo certo, eu tô bem! Quer desabafar? Cê quer brigar? Com quem? Diz aí." Dependendo, eu até deixo, mas acho que de ruim foi isso, a preocupação que trouxe para minha galera.

Curiosidade: já passou por algum momento constrangedor?

Gata, não. Assim, naquela amostra de fama que eu achei que eu estava famoso, mas era só uma amostrinha, quando começou uma galera famosa me seguir, eu fiquei com muita vergonha porque a galera vem, né? Segue a gente do nada, eles não avisam, não mandam um e-mail avisando: "Vou te seguir, você se prepare." Quando pensa que não, a pessoa te seguiu e tá lá a caixa na DM. Um negócio lá cheio de mensagem. Eu mesma pra Letrux, tinha mandado 1001 mensagens pra mulher falando que eu a amava, que ela era tudo de bom, que sei lá o que e tal. E, outras pessoas, uns rapazes famosos, menina, que eu já tinha dado em cima às vezes, embriagada, acontece, Isis, eu sou humana antes de qualquer coisa. E, nossa, uns rapazes famosos, uns galãzinho, uns rapazes gatinhos, que começaram a seguir, quando entraram lá, tava cheio de mensagem minha dando em cima deles. Isso aí eu fiquei com vergonha, tanto que logo depois que aconteceu isso aí, uma duas vezes, eu já fui caçando e deletei todas. Quando ficava bêbado, tacava o celular longe, para evitar.

E vulnerável?

O que me fez sentir vulnerável foi ter dado em cima de Jesuíta Barbosa. Não, mentira, não rolou isso com Jesuíta, não. Ah, eu acho que foi esse caso da minha mãe. Na verdade, todas as mensagens da minha família (vulnerável, não sei o que você tá querendo dizer, se é atacado e fraco ou vulnerável tipo abaixei minha guarda, tô com todas as emoções aqui à flor da pele?) Se for nesse sentido das emoções, realmente eu tô muito emocionado. As pessoas que eu sempre soube que acreditavam em mim, torceram por mim, tão muito realizadas e muito felizes. Eu já recebi mensagem de prima minha chorando, de tia minha chorando, gente chorany Mas é choro bom. Eu fiquei muito sentido de ver que eu sou todo esse tanto de gente massa. Mas se for vulnerável no sentido de atacado, e tal. Não! Ela tá aqui de cabeça erguida, eu sou enjoada.

Para finalizar, uma frase para definir esse seu momento e a nova relação com a fama.

Uma frase, hm, aquela que diz assim: "Eu quero ser famosa / Ser uma grande artista / Gravar comercial / Ser capa de revista / Eles vão ver só quando minha música tocar / Vou dar maior gritão, ahh / Eu vou passar batom / Chic, chic, chic, chic / Eu vou ficar bonita / Chic, chic, chic, chic / Segura / Eu vou rebolar, vou rebolar, vou rebolar pra Ísis, da ELLE.

Conseguiria em uma palavra?

Uma palavra? PIFAIZER.

Alô, quem fala?

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Já são mais de 15 milhões de visualizações no seu vídeo. O Brasil está apaixonado por você. Mas você não começou com esse vídeo da Pifaizer, né?

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E você sempre quis trabalhar com internet?

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Muita gente que cria conteúdo para a internet sonha com esse momento de viralizar. Conta pra gente. Já deu pra sentir um antes e depois?

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Como é ficar famoso?

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São muitas emoções, né? O que você sentiu na hora que percebeu o que estava acontecendo?

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Quanto tempo demorou pra cair a ficha?

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Qual tem sido a parte boa de toda essa experiência?

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Curiosidade: já passou por algum momento constrangedor?

14:58
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E vulnerável?

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Para finalizar, uma frase para definir esse seu momento e a nova relação com a fama.

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Conseguiria em uma palavra?

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