Doce, colorido e grudento, o chiclete é a guloseima emblemática da cultura pop. A goma de mascar dominou a música com os hits açucarados do bubblegum dos anos 1960, protagonizou momentos icônicos no cinema e viu sua cor se tornar referência na moda, com o onipresente tom rosa dos anos 2000. O chiclete foi parar até nos museus. Mas por que esse doce virou sinônimo de pop?
Essa comparação vem do surgimento da ideia de juventude e das novas formas de consumo associadas a ela, como o cinema, o rock e o fast food, explica Jeder Janotti Jr., professor do departamento de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Mastigar chicletes era considerado um mau hábito, que está associado inclusive a ícones desse início da música pop e do rock and roll. A ideia do rebelde tem essa coisa não só da vestimenta, mas também do ato de mastigar chiclete”, diz. Essa analogia foi usada também pelos detratores da produção pop, pelo chiclete ser um alimento de consumo rápido e desprovido de nutrientes.
Professora de semiótica da Universidade de São Paulo (USP) e fundadora da Casa Semio, Clotilde Perez também enxerga uma ligação entre o doce e o universo jovem. “A ideia de mascar como um hábito é muito anterior. Mas o chiclete especificamente vem de um contexto de expansão da cultura de consumo associada à cultura das mídias. Ele passa a ser expressivo dessa mistura, e quem é o vetor disso sempre é o jovem. O chiclete incorpora perspectivas quase instintivas da questão do mascar com esse lado lúdico da cor e da bola”, explica.
É esse aspecto lúdico da cor que foi mais bem incorporado pela moda. O rosa-chiclete foi dominante nas passarelas recentemente, aparecendo em coleções de Valentino, Chanel e Miu Miu. “Numa situação de crise, é muito próprio a gente se assegurar de valores e suas expressões mais cotidianas, que trazem algum tipo de segurança. O rosa-chiclete é uma forma lúdica de sair de um cotidiano muito difícil”, diz Perez.
Como Roddy Piper no filme Eles vivem, estamos aqui para mascar chiclete. Então, proteja seus tênis, não encoste na parte de baixo da mesa e confira algumas curiosidades sobre a história desse doce.