Cabelo
de Diva

Do platinado de Madonna aos cachos volumosos de Diana Ross, levamos você a uma jornada pelo mundo do pop por meio dos cabelos mais icônicos da história da música.

Por Bárbara Rossi

Fotos: Getty Images e Reprodução

Pensar no poder das divas do pop é ser automaticamente levado à imagem de Diana Ross cantando “Ain’t no mountain high enough” no Motown 25 TV Special, em 1983. No vídeo, ela entra correndo no palco usando, além de uma jaqueta brilhante, os fios cacheados no volume máximo. Alguns pensam na franja platinada sobre os olhos de Lady Gaga em “Poker face”. Outros em Beyoncé jogando o cabelo de um lado para o outro durante a coreografia de “Who run the world (Girls)”. Ou ainda lembram com saudades de Amy Winehouse com seu penteado icônico performando “Valerie” ao vivo.

A verdade é que o mundo do pop está intimamente ligado ao dos cabelos. Mudanças capilares marcam eras inteiras, penteados se tornam entidades únicas e criam quase uma aura de divindade quando essas cantoras sobem no palco para cantar. Algumas delas, como Madonna, Cher e Rihanna, são conhecidas pelo espírito camaleoa, aderindo a visuais completamente diferentes a cada lançamento de álbum. Outras têm penteados tão marcantes que fica impossível não associá-las a eles – vale pedir o corte à la Grace Jones ou querer copiar o rabo de cavalo de Ariana Grande.

Além de muito talento, é difícil saber ao certo o que faz alguém subir ao posto de ícone do pop, mas um item parece ser pré-requisito: fios que chamem a atenção. Não é à toa que a frase “cabelo de diva” se tornou tão popular. Mas, ainda que muitas vezes essa ideia esteja associada a uma imagem específica de fios compridos, com ondas marcadas e superdefinição, as mulheres dessa lista nos provam que o cabelo de diva pode ter diversos tamanhos, cores, texturas e formas. O único pré-requisito é ter (muita) personalidade.

1982
2004
1960
1975
1975

Diana
Ross

É dela um dos momentos capilares mais icônicos da história: sentada no palco, cantando “I’m gonna wash that man right outta my hair”, exibindo um cabelo gigante, com flores de hibisco em todo o comprimento. Não é de estranhar que o mundo da beleza sempre tenha feito parte da vida da cantora. Enquanto estava no colégio, ela passou a frequentar também uma escola de cosmetologia, arriscando penteados em si mesma e usando os vizinhos como cobaia. Durante uma entrevista com a modelo Naomi Campbell, a filha dela, Tracee Ellis Ross, revelou que a mãe sempre foi responsável por seus próprios looks e nunca contou com uma equipe de maquiadores e cabeleireiros.

Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Ross teve diversos tipos de cabelo – todos icônicos. Nos anos 1960, quando estreou como membro do The Supremes, as perucas reinaram absolutas. O bob supervolumoso, liso ou ondulado, com ou sem franja, foi o mais marcante. Foi na década seguinte, quando lançou sua carreira solo, que Diana passou a deixar os cachos, quase sempre longos e volumosos, aparecerem. Em algumas fotos, ela surge também usando o black power, que nessa mesma época ganhou força como um dos grandes símbolos de luta e resistência do movimento negro. Desde então, é mais comum ver a cantora usando o seu cabelo natural, com muito volume e frizz, do que as famosas perucas do começo da carreira. Seja na música ou no cabelo, Diana Ross sempre faz valer a máxima “quanto maior, melhor”.

1981
1980
1977
1979
1981

Grace
Jones

Rebelde, subversiva e transgressora: essas são palavras geralmente atribuídas a Grace Jones. Sua história capilar, assim como sua carreira e seu estilo, é tão icônica que é impossível pensar em certos cortes de cabelo e não se lembrar dela. Em seu livro de memórias I’ll never write my memoirs (2015), lançado pelo jornal britânico The Guardian, ela conta que foi a primeira pessoa na sua escola a usar um afro. “Era um jeito abrupto de dizer ao mundo: eu não sou uma garota boazinha.”

Já no final dos anos 1960, enquanto iniciava sua carreira de modelo, ela decidiu raspar a cabeça. “Isso fez com que eu parecesse mais abstrata, menos presa a uma raça ou a um gênero específicos”, conta ela no livro. “Eu era preta, mas não preta. Mulher, mas não mulher. Americana, mas jamaicana. Africana, mas ficção científica.” Foi justamente esse visual andrógino e fora do padrão da época que fez com que ela ganhasse espaço no mundo da moda, desfilando para marcas como Yves Saint Laurent, Alaïa e Kenzo.

No começo da década de 1980, quando sua carreira musical decolou, ela aderiu ao corte que se tornaria icônico por gerações: o topo mais alto, com acabamento geométrico, e as laterais raspadas, como em um degradê. Esse estilo já era muito utilizado por homens, mas vê-lo em uma mulher era algo totalmente fora de cogitação. O visual foi tão marcante que até nos dias de hoje as pessoas se referem a ele como “o corte de Grace Jones”. Aliás, vale lembrar também das imagens construídas para a capa de seus álbuns, que destacavam o cabelo raspado e as maquiagens, sempre coloridas e vibrantes, e que são até hoje uma referência no mundo da beleza, da moda e da fotografia.

1978
1972
1986
1985
1968
2018

Cher

Com seu icônico cabelo longo e liso dividido ao meio, Cher correu para que a geração Z pudesse, bem... andar. Do clássico cabelão nos anos 1970 aos mullets na década seguinte, é preciso dizer que a cantora entregou tudo – não só na música pop, mas também no quesito capilar. Mesmo no início de sua carreira, quando ainda era adolescente e cantava junto com o seu então companheiro, Sonny Bono, ela conseguiu transformar o clássico liso com franja cheia, que todo mundo usava, em algo que fosse só seu. A imagem que ficou registrada de Cher no inconsciente coletivo, porém, foi a com o cabelo longuíssimo, às vezes chegando às panturrilhas. Isso em uma época em que fios muito compridos não eram exatamente bem aceitos.

Quanto mais confortável se sentia sob os holofotes, mais a cantora ousava com o visual. Com a chegada da era disco, Cher tornou as perucas acessórios indispensáveis, inclusive para o dia a dia. São tantas em sua coleção que ela precisou montar um quarto só para guardá-las em casa.

Pouco depois, assistimos a cantora passar, quase de um dia para o outro, dos bobs com cachos soltos e volumosos ao rocker mullet. Foi nessa época também que ela passou a usar seus icônicos (e exagerados!) acessórios de cabelo. Em um dos looks mais icônicos da história do Oscar, criado por Bob Mackie em 1986, Cher atravessa o tapete vermelho com uma headpiece com plumas pretas de cerca de 60 cm de altura. Nos últimos anos, a cantora tem apostado em visuais mais naturais, com ondas e cachos despojados. Apesar de, vez ou outra, aumentar o volume dos fios ou apostar no total platinado.

1990
1998
2005
1985
1987
1990

Madonna

Rainha do pop e da reinvenção, a cada novo álbum ela apresenta ao mundo uma nova versão de si mesma – e nós assistimos atentos, ansiosos pelo que ela ainda pode fazer. Em uma entrevista ao Refinery29, Andy Lecompte, atual cabeleireiro da diva, falou: “Madonna assume e incorpora uma persona. Ela se torna o personagem de qualquer coisa que esteja fazendo ou o que quer que a esteja inspirando”. De garota rebelde com um ondulado volumoso em “Like a virgin” ao platinado à la Marilyn Monroe em “Papa don’t preach”, ninguém incorpora melhor o espírito camaleoa do que a cantora.

Logo no início de sua carreira, nos anos 1980, ora com o rabo de cavalo de lado despojado, ora com um ondulado todo repicado, Madonna se tornou uma referência de estilo. Junto com o cabelo, a sobrancelha cheia e a pinta desenhada acima da boca marcaram uma era. A primeira grande mudança da diva talvez tenha sido aderir ao loiro todo platinado, com referência às estrelas de cinema da Old Hollywood. Apesar de ter deixado seu castanho natural brilhar em alguns momentos, como no clipe de “Like a prayer”, o Blond Ambition é a marca registrada da cantora. Como esquecer sua imagem com o sutiã pontudo de Jean Paul Gaultier e os cachos platinados? Ou os fios todos puxados para trás em “Erotica”? Ainda que mais discreta nos dias de hoje, com o cabelo ainda loiro e levemente ondulado, Madonna continua sendo um dos principais símbolos da beleza que desafia, cria e se reinventa.

2007
2007
2008
2009

Amy
Winehouse

Dona de um dos visuais mais icônicos do entretenimento, Amy ganhou lugar como referência no mundo da beleza justamente por causa de seu estilo único. O penteado, conhecido como beehive (ou colmeia), foi criado em 2006 por Alex Folden, hairstylist da cantora. Em uma entrevista ao Sunday People, ele revelou que, na verdade, o estilo surgiu como uma brincadeira. Ele conta que penteou o cabelo da cantora para trás e colocou um bocado de extensões dentro. “A intenção nunca foi que ele fosse tão grande. Então eu disse: ‘Vamos torná-lo uma caricatura’.” Porém, quando os amigos de Amy a viram, a fala foi uníssona: “Esse é o seu visual assinatura!”

As referências para o penteado, como quase tudo no estilo da cantora, vêm de décadas anteriores: o beehive era tendência nos anos 1960, tendo sido usado por Audrey Hepburn, em Breakfast at Tiffany’s, e por Brigitte Bardot, uma de suas maiores inspirações. Mas não há dúvida de que Amy o levou a outro nível. O truque para conseguir tanto volume, de acordo com Folden, é pegar dois pacotes de cabelo sintético, colocar dentro de uma redinha e costurá-los juntos. “Eu sou muito insegura e, quanto mais insegura me sinto, maior acho que deve ser o meu cabelo”, revelou Amy em uma entrevista de 2011.

A paixão da cantora pelo seu visual era tanta que são poucos os registros dele sem o beehive e o delineado clássico. As maiores mudanças em seu penteado eram o comprimento da franja, a mecha descolorida e os acessórios, que geralmente variavam de flores a lenços. Existem milhares de motivos pelos quais Amy será para sempre lembrada, e seu cabelo é, definitivamente, um deles.

2010
2008
2009
2011
2018
2018

Lady
Gaga

Resumir a timeline capilar de Lady Gaga em poucos caracteres é uma tarefa, no mínimo, ingrata. É difícil ter visto a cantora repetir o mesmo visual mais de uma vez. Do avant-garde à Old Hollywood, Gaga é a inspiração perfeita para quem não tem medo de ousar. É bem provável que você tenha conhecido a cantora em 2008, na era The fame, com os fios longos, loiros e com uma franja reta bem em cima dos olhos. Ou ainda com um laço feito de cabelo no topo da cabeça – apenas um pequeno spoiler do que viria pela frente.

Ao longo dos anos, o loiro platinado ganhou texturas, comprimentos e cortes diferentes, além de pontos estratégicos de cor. Um de seus momentos mais marcantes é do Grammy de 2010, quando Gaga apareceu com a parte de baixo do cabelo pintada em um amarelo vibrante – o mesmo que ela usa no videoclipe de “Telephone”. Nesse ano, na noite do MTV Video Music Awards, mesmo carregando um vestido todo feito de carne, uma mancha azul entre os fios acinzentados também roubou a cena.

A cantora entregou muitos visuais ousados, mas abaixou o volume na era Joanne (2016), optando por penteados mais simples e clássicos. Porém, com o lançamento de “Chromatica”, no ano passado, ela voltou a exibir a coleção de perucas que deve ser uma das mais coloridas e ousadas do pop. Nos últimos meses, também tem deixado o cabelo, naturalmente castanho, à mostra, principalmente em seu perfil no Instagram. Ainda que seja quase estranho vê-la dessa forma, é interessante acompanhar como seus fios expressam as fases de sua carreira e da sua vida pessoal. Qual é a sua aposta para a próxima era de Gaga?

2014
2010
2013
2015
2015
2019
2018

Rihanna

Em pouco mais de uma década de carreira, a nova bilionária do entretenimento já fez de tudo no quesito capilar. Tudo mesmo: cachos vermelhos, mullet com sidecut, coques bantu, supervolumoso, liso e longo, tranças de todos os tipos… Ufa! A única constante é que ela tem o poder de elevar qualquer visual ao patamar máximo do cool. E, se você conseguir pensar em algum visual que a cantora ainda não tenha usado, é só relaxar e aguardar os próximos capítulos – ou o próximo álbum (quando vem mesmo, Riri?).

Um de seus looks mais icônicos talvez seja o long bob com a franja de lado no clipe de “Umbrella”. Todo o visual da era do álbum Good girl gone bad entrou para a lista dos mais marcantes da história do pop. Aliás, os curtinhos de Rihanna no começo de sua carreira fizeram com que muitas de nós corrêssemos para o salão para passar a tesoura nos fios. Depois, vimos a cantora investir pesado nos fios bem vermelhos em diversos estilos, do crespo volumoso ao liso com franja, passando pelo ondulado clássico.

No clipe de “Shine bright like a diamond”, um de seus maiores hits, Riri também exibiu um de seus cabelos mais lindos: a sua já clássica franja de lado, um pouco mais longa, com um sidecut. Nos últimos anos, ela tem se mantido fiel ao seu castanho natural. E, geralmente, aparece mais longo com algumas variações no styling: liso, ondulado, trançado ou com dreads. No final das contas, não existe nenhum tipo de cabelo que deixe Rihanna qualquer coisa menos do que maravilhosa.

2009
2020
2020
2020
2007
2018

Beyoncé

A dona do pop é proprietária também de alguns dos visuais mais bonitos da história da música. É bem possível que o cabelo que mais associamos à cantora seja o longo, iluminado e com ondas perfeitas – o clássico Beyoncé. Mas, apesar do seu visual assinatura, ela também passou por diversos estilos. Das tranças nagô ao liso com franjinha, ela experimentou bastante ao longo dos anos. Sendo ela uma das maiores catapultas para o sucesso das laces na contemporaneidade, Beyoncé causou um burburinho na internet quando seu hairstylist Neal Farinah publicou uma foto no Instagram do seu cabelo natural durante a turnê de On the run II – cacheado, volumoso, perfeito. Outro momento inesquecível foi o de sua apresentação no Grammy Awards 2017. Com cachos longuíssimos e um headpiece dourado na cabeça, Queen Bey incorporou a verdadeira deusa que é.

Ainda que os looks de tapete vermelho e palco sejam incríveis, não dá para falar do cabelo de Beyoncé sem mencionar todo o trabalho realizado na obra-prima Black is king, álbum visual lançado em 2020 pela cantora. Farinah, que foi responsável por comandar o time de cabeleireiros, conta que ele selecionou os melhores profissionais pretos das redes sociais. Eles entraram de cabeça em séculos de multiplicidade da cultura africana para criar mais de 40 perucas em questão de dias. Algumas eram tão grandes e elaboradas que eles tinham medo de que a cantora não fosse conseguir performar com elas. A gama de looks incluiu penteados estruturados nos mais diferentes formatos, tranças nagô superlongas e coques bantu, além de visuais que se aproximariam mais do seu cabelo natural. Queen Bey não cansa de entregar e a gente não cansa de assistir.

2020
2011
2020
2021
2020

Ariana
Grande

Tão icônico quanto as notas altíssimas que ela consegue alcançar, o cabelo de Ariana é praticamente uma entidade única. Apesar do status que hoje ele ocupa, a cantora precisou lidar por anos com os constantes ataques de pessoas falando que não aguentavam mais vê-la sempre com o mesmo visual. Ela desabafou nas redes sociais: “Eu uso o rabo de cavalo porque meu cabelo natural está tão destruído que fica ‘zoado’ e absurdo quando eu solto”. O desgaste dos fios, de acordo com a cantora, veio do tempo em que ela precisava descolori-los e pintá-los de vermelho a cada 15 dias para atuar em Sam & Cat, série da Nickelodeon. Ela confessou que já tentou usar perucas e que não se adaptou. “Então, mesmo que seja irritante para todos vocês terem que olhar para o mesmo penteado toda hora, é o que funciona para mim agora (e eu estou confortável pela primeira vez em anos)”, completa.

O rabo de cavalo, porém, foi se tornando cada vez mais popular, a ponto de virar sua marca registrada. Ela mesma confessou, em entrevista para o site Byrdie, que nunca imaginou que ele fosse ganhar essa proporção, mas que de fato é o penteado que a deixa mais feliz. “Toda vez que eu o prendo para cima, é como se fosse a primeira vez. É como amor verdadeiro”, conta. Talvez seja por isso que são raros os momentos em que vemos Ariana com outro visual. Ela, às vezes, muda um pouco o tom dos fios, faz uma franjinha, finaliza com algumas tranças ou faz dois rabos. Com Ariana, o que não falta é inspiração para recriar e inovar com o clássico.