Report de tendências

Alfaiataria:
Conforto estruturado

Durante os meses de quarentena e isolamento social, imaginávamos um futuro de looks maximalistas, volumes exagerados, glamour sem limites, tudo mais, mais, mais. A realidade, porém, ainda não é essa. A situação já melhorou bastante com o avanço da vacinação, mas a pandemia ainda não acabou. Com isso, em vez de um retorno ao hedonismo, o que temos visto é um crescente interesse por roupas com algum tipo de formalidade, principalmente as peças de alfaiataria. Parece que, em momentos de caos e insegurança, um pouco de estrutura pode ser desejável.

A tendência surge como uma mistura do conforto que adquirimos nos meses passados dentro de casa com o desejo por um visual mais arrumado. Ou seja, o terno da vez tem silhueta relaxada, formas ligeiramente amplas – principalmente nas calças – e tecidos macios, de preferência naturais, como algodão e linho. A camisa pode ser substituída por camiseta ou então usada sem o blazer – ainda mais se for oversized. Na cartela de cores, destaque para os tons neutros, como bege e off-white. À medida que as empresas começam a retomar as atividades presenciais, as buscas por roupas com esse estilo têm crescido consideravelmente.

Estilo oversized

Já faz alguns anos que a moda caminha rumo ao conforto. É só lembrar da crescente influência das roupas esportivas e do fenômeno do athleisure nos nossos guarda-roupas e nas marcas mais luxuosas do planeta. Com a chegada da pandemia, esse processo foi acelerado – e intensificado. Isolados em nossas casas, mudamos nossa relação com a moda e com nossos corpos. Ao que tudo indica, essas transformações serão duradouras.

Nas passarelas, não são poucas as propostas de looks oversized – da alfaiataria e opções mais casuais. No streetstyle mais ainda. A atual obsessão com os anos 2000 também reforça o movimento com a volta das calças cargo e dos jeans baggy. Aliado a isso, vemos ainda um fortalecimento do mercado plus size, com novas marcas investindo no segmento.

Streetwear reloaded

Que a moda caiu de amores pelo streetwear não é nenhuma novidade. Contudo, a estreia do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio reacendeu o interesse pelo assunto, principalmente por peças e marcas famosas na cultura do esporte. E, graças ao protagonismo de atletas como Rayssa Leal, o destaque vai para as roupas femininas. Historicamente dominado por homens, o universo do skate está se abrindo cada vez mais para as mulheres.

Nesse sentido, artistas de movimentos culturais como funk, grimes e rap também renovam o que se entende por moda de rua. É o estilo mandraka, que combina roupas largas ou esportivas, com elementos chamativos, silhueta justa e acessórios marcantes. Lá fora, o estilo "baddie", que reúne os mesmos elementos street com toques de sensualidade e glamour, também dá as caras por aqui.

Orgulho e poder cacheado

Nos últimos anos, vimos popularizar-se um debate intenso sobre aceitação de todos os tipos de cabelo. Nesse processo, muitas pessoas deixaram o alisamento químico, a chapinha e a escova para trás e passaram a usar os fios naturais, celebrando a textura e o volume. Passado o período de transição capilar, entramos em um novo momento, que consiste, principalmente, em pensar em diferentes possibilidades para esses cabelos agora restaurados. O movimento inclui penteados com roupagens ancestrais até interpretações mais contemporâneas.

A grande quantidade de referências nas redes sociais, reforçada por influenciadores e grandes nomes da cultura pop, contribuiu para esse avanço. As tranças, em suas diferentes versões, são as queridinhas. Isso explica porque a busca por “trança nagô” triplicou no último ano. De padrões geomé́tricos a flores desenhadas com o cabelo, as tranças são um penteado de inventividade. As box braids, que tiveram um crescimento de 25%* na plataforma, também ganham destaque e se relacionam com o estilo baddie (uma mistura de streetwear com glamour), outra tendência que vem crescendo tanto na beleza quanto na moda.

Outro símbolo desse movimento é o baby hair – fios curtos e finos que nascem na linha capilar em volta do rosto. No Pinterest, a busca por penteados com baby hair cresceu quatro vezes no último ano.

A nova era dos grisalhos

A pandemia da Covid-19 e o isolamento social fizeram com que muitas mulheres repensassem sua relação com seus cabelos. Por conta do fechamento dos salões e por estarem mais tempo em casa, muitas delas precisaram desapegar da tintura e, assim, passaram a enxergar os fios brancos com outros olhos. Mesmo depois da reabertura do comércio e da volta dos atendimentos, boa parte dessas mulheres optou por não fazer mais o retoque da raiz.

Não atoa, a busca por “cabelos grisalhos” aumentou 40% no último ano. No mundo todo, surgiram diversos movimentos para celebrar o cabelo branco. O #silversisters, o #goinggraygracefully e o #grayhairmovement são apenas alguns exemplos. Aqui no Brasil, o documentário “Branco & Prata”, lançado em 2017, deu ainda mais visibilidade ao tema.

Com tanta gente fazendo essa transição, cresce também a busca por cuidados com os fios brancos ou acinzentados, já que eles têm necessidades muito específicas. Isso se dá principalmente pela ausência de melanina na estrutura capilar, que faz com que o fio passe a nascer mais espesso e seco. Assim, produtos e truques que devolvem o brilho e a hidratação aos fios, assim como aqueles que tiram o amarelado, devem ser mais procurados daqui por diante.

E-girl: misturando referências

A estética e-girl nasceu na internet, inspirada principalmente nos emos, nos gó́ticos e nas personagens de anime. Cabelo colorido (às vezes bicolor), roupas escuras, blusas listradas, camisetas largas de banda e saias xadrez são algumas das marcas desse estilo. A maquiagem também é marcante, o que explica o aumento de 2x na busca por “maquiagem e-girl” no Pinterest entre agosto de 2020 e 2021. O visual lança mão de um mix de referências variadas que, juntas, criam uma unidade bastante característica.

Entre elas, ganha destaque o delineado – que, inclusive, está no topo das buscas sobre o estilo na rede social. O traço é sempre grosso, reto e bem grá́fico, com o cantinho puxado para levantar o olhar. As cores escuras e ultrapigmentadas são as favoritas. As e-girls também amam usar o delineador para criar desenhos gráficos, como triângulos, corações e cruzes, nas pálpebras de baixo ou nas bochechas. Para aumentar os olhos, muitas recorrem a lentes de contato maiores que a íris. As cores mais usadas são preto, azul, branco e vermelho.

Quando o assunto é sombra e blush, o rosa e o vermelho são os tons preferidos. Nas bochechas, a ordem é deixá-las bem coradinhas, como uma personagem de anime com vergonha – referência que também sugere o toque de cor na ponta do nariz. O iluminador é usado para complementar a ponta avermelhada, criando a sensação de que ele é mais arrebitado. Para os lábios, os lip tints são o produto favorito e são quase sempre aplicados com a borda esfumada. O visual futurista é a nova obsessão da geração Z!

Uma varandinha
pra chamar de sua

Depois de meses de isolamento social, os espaços ao ar livre nunca foram tão valorizados. E quem conta com uma área externa em casa vai tratar de aproveitar esse cantinho ao máximo, mesmo quando a metragem é reduzida.

Com o desejo de encontrar amigos e familiares, mas sem deixar de lado os cuidados com a saúde, as pessoas estão procurando ideias para tornar a varanda, o quintal e jardim mais aconchegantes e agradáveis para a convivência. Para isso, elas procuram desde alternativas simples, como móveis que podem ser usados tanto em áreas internas quanto externas, até projetos maiores, como a construção de pergolados e cozinhas ao ar livre, além de demonstrarem um interesse amplo por dicas e produtos ligados aos paisagismo e a jardinagem.

Cores em alta

Neutralidade ou festa das cores? Essas duas tendências antagônicas estão cada vez mais fortes na decoração. A estética bege e os tons terrosos, como marrom, ocre e terracota, que também ganham espaço na moda, tomam conta de ambientes, criando uma atmosfera de tranquilidade e aconchego, ao mesmo tempo em que remetem a uma certa conexão com a natureza.

Por outro lado, um décor repleto de cores, muitas vezes contrastantes, surge com força similar, como se viu na última Semana de Design de Milão. Esse espírito lúdico e colorido, com direito a estampas geométricas e móveis com formas orgânicas, se inspira principalmente no Memphis Design, estilo difundido na Itália no início dos anos 1980. Na versão atualizada, formas sinuosas aparecem em itens diversos e a paleta incorpora candy colors.

Paredes sem tédio

Durante a pandemia, muita gente perdeu o medo de lidar com pincéis e descobriu que uma boa demão de tinta é um dos métodos mais econômicos e eficazes de renovar um ambiente. E as pessoas também estão percebendo que a pintura não precisa se limitar a uma só cor. Ela é capaz de criar um efeito retrô com paredes bicolores, moderniza a sala com formas geométricas (em cores contrastantes ou explorando tons da mesma paleta) e ainda pode interagir com outros elementos da decoração, como um arco pintado que emoldura um espelho ou substitui visualmente a cabeceira da cama.

Dá até para ir mais além: tem aumentado a procura por murais artísticos, feitos sob encomenda para criar ambientes verdadeiramente únicos.