É melhor já deitar para esse sorriso

Aposta musical do ano, Marina Sena experimenta o ônus e o bônus que é ter seu álbum solo de estreia viralizado nas redes sociais. O seu plano, porém, não deve ser suspenso por haters: virar uma artista pop internacional.

É melhor já deitar para esse sorriso

Aposta musical do ano, Marina Sena experimenta o ônus e o bônus que é ter seu álbum solo de estreia viralizado nas redes sociais. O seu plano, porém, não deve ser suspenso por haters: virar uma artista pop internacional.

Por Gabriel Monteiro
Fotos: Thais Vandanezi
Vídeo: Fabricio Barreto
Edição de Moda: Flavia Pommianosky e Davi Ramos

Antes de começar a entrevista oficialmente, Marina Sena se senta para almoçar com a equipe que vai fotografá-la para esta ELLE View. De cara, ou melhor, de primeira, solta frases como “Gal Costa fez no Brasil o que a Cher fez lá fora”. Já fica claro que é bom ouvir o que ela tem para dizer, mesmo que o gravador ainda não esteja ligado. “Gal foi a primeira diva pop brasileira”, ela continua a dizer. Todos prestam atenção.

Sena solta informações sobre si, como o fato de que adora parmegiana, tem ouvido muito Tasha e Tracie e que a mãe teve uma confecção de calcinhas e agora ela estava ali ‒ olha só! ‒ usando uma lingerie da Gucci. Explica que Taiobeiras (MG), sua cidade natal, é tão mineira quanto é baiana, porque fica a uma distância de Belo Horizonte não tão diferente da de Salvador. Conversamos sobre ela ser libriana, sobre existir complexidades que não cabem no Instagram e sobre como, enfim, há menos espaço para a arrogância na indústria da música atualmente.

Aliás, ela tem planos grandes. E é um erro confundir isso com falta de humildade. As suas metas audaciosas, como se consagrar artista internacional nos próximos anos, são a dispensa da falsa modéstia de quem sabe que há um baita esforço na construção da própria carreira. Fora isso, uma tática inspiradora para não deixar as inseguranças se sobreporem aos sonhos, como ela ensina. Abaixo, você confere o papo na íntegra (dessa vez, com o gravador ligado).

Camiseta, Perigo, R$ 210. Calcinha, Walério Araújo + Laboissiere, R$ 420. Meia-calça, Lupo. Sandálias, Christian Louboutin, R$ 6.500.
"A minha voz é a minha personalidade. Não enxergo uma coisa separada da outra."

Você já falou que o artista não pode ignorar o agora e isso significa também não ignorar as redes sociais. Como você as usa de um jeito que não prejudique, mas, sim, ajude?  

Não sei se faço isso bem, na verdade. Fico um pouco fodida da cabeça. (risos) Brincadeira. Sou ligada nas redes sociais, mas tem limite. Eu estou lá para passar as informações que preciso e interagir com a galera, mas não mexo na maioria do tempo porque acho importante o artista ter uma equipe que monitora. Assim, você não fica tanto ali.  

Significa que você não lê os comentários? 

Eu até olho. Mas é importante poder se ausentar, não ter que fazer. Isso é bom. A vida lá é real também, porque a gente vive lá, mas existe o aqui.

(Depois desta entrevista, Marina Sena teve a sua conta do Instagram suspensa [13.12], após ataques que recebeu ao ganhar duas categorias de artista revelação no Prêmio Multishow. Em nota, ela afirmou que trabalha como cantora há sete anos e que a experiência tem sido “insuportável” por não apenas receber críticas, mas também sofrer bullying em relação à sua voz. “Muita gente fala: seja forte, sucesso é assim! Mas eu não posso achar normal e nem deveria. Isso mostra a decadência em que se encontra a sociedade e quantos artistas incríveis a gente perde para a maldade.” Em nossa conversa, ela também falou sobre o assunto.)  

O seu álbum de estreia viralizou e, com isso, vieram muitos fãs e também muitas críticas. O principal ataque é em relação à sua voz. Como você lida com isso?  

A minha voz é a minha personalidade. Não enxergo uma coisa separada da outra. Então, claro, a gente fica mexida. Mas eu vou continuar trabalhando, e é o que eu estou fazendo. 

Você sempre gostou da sua voz?  

Quando você é de cidade pequena, não gosta do popular. Você quer escutar a Kelly Key, que está na televisão, e odeia a roça. Minha avó me chamava para ir à missa e eu odiava. Hoje, só queria ir pra missa com a minha avó. Agora eu vejo a beleza das coisas. Quando deixei de ser adolescente, vi o valor de tudo e me aprofundei na música popular. Comecei a me entender. Minha tia Tazinha, por exemplo, cantava na igreja e tinha uma voz parecida com a minha, anasalada e bem alta. Ela era uma pessoa que sempre achou a minha voz linda.  

Assusta o número de pessoas que passaram a ficar interessadas por você? 

Não me assusta porque era o que eu queria. Isso é o que eu sempre quis e sempre soube que ia acontecer. 

Mas não dá insegurança pensar em criar novamente?  

Eu vou fazer sempre o que eu quiser e apenas isso. Se você gosta de mim, tem que estar tudo bem eu fazer o que eu quero. Essa é a função do artista. Do contrário, não vale a pena. 

Muita gente diz que você é zero insegura, mesmo. 

Eu tenho inseguranças, claro. Mas eu não as deixo serem maiores do que o meu sonho. Tenho um milhão de inseguranças, como a minha aparência, por exemplo, mas ela fica em segundo plano. Eu jamais coloco na frente do meu sonho, porque ele é maior do que tudo.  


Jaqueta, Walério Araújo, R$ 9.000. Vestido, R$ 428, e calça, R$ 368, ambos Paeteh.
"Eu não ficaria bem se não fosse artista, não iria progredir como pessoa, não seria o que eu sei ser."

Você já afirmou algumas vezes que esse sonho é ser uma grande artista pop. Por quê?  

Porque eu não consigo cantar para pouca gente. Eu só consigo cantar se for para muitos.  

Existe a ideia de que, quando a gente vai atrás de sonhos grandes, corremos o risco de nos afastar de quem somos. Qual seu plano para ser uma grande artista pop sem deixar de ser quem você é?  

Tenho uma rotina de trabalho sem ego. Faço um projeto que é Marina Sena, algo maior do que eu. Mas eu também sempre fui isso. O que eu sou hoje não é diferente do que eu era. Eu continuo sendo a mesma pessoa. E ser uma diva pop não é algo que eu encarava como fora de mim. Já sou eu. Eu sempre fui assim. Mas não tinha dinheiro.  

Você reforça que Marina Sena é um projeto. Nesse projeto, você espera que as pessoas prestem atenção em quê?  

Na liberdade que eu tento inspirar. Eu quero inspirar quem é e quem não é artista a fazer o que quer. Lógico, é importante estabelecer negociações com a sociedade para poder existir. Precisamos entrar em algumas caixas, mas não em todas. Tem que ter rebeldia. Tem que ter. 

É difícil pensar em alguém que já tenha nascido com essa mentalidade. Quando a chavinha virou?  

Eu sempre fui doidinha, mas eu tentava me enquadrar nos conceitos das pessoas com quem eu convivia quando era criança. Cidade pequena, outro contexto, sabe. Eu tentava e realmente fazia o meu melhor. Mas, quando eu respirava, relaxava, já virava outra coisa. Nunca consegui manter o personagem da certinha. Eu sempre caía dele. Quando repararam nisso, viram que eu realmente era assim. Então eu fui para Montes Claros (MG). Lá, eu não precisava agir como as pessoas queriam. Foi lá que eu comecei a endoidar mesmo.  

Você foi para Montes Claros para ser artista? Não tinha plano B? 

Não. Todo mundo entendia que não tinha como eu ficar em Taiobeiras. A minha mãe falou que tudo o que ela mais queria era que eu deixasse a cidade. Se eu continuasse lá, seria decadência. E eu fui para Montes Claros ser artista.  

Então a sua família apoiou você?  

Sim. A minha mãe via que era isso. Eu não ficaria bem se não fosse artista, não iria progredir como pessoa, não seria o que eu sei ser. Minha mãe sabia que ser artista era a única maneira de eu viver, de ser feliz.  

Como foi em Montes Claros? Como surgiu a primeira banda? 

Eu ia para a Praça da Matriz com o meu violão. Via as rodinhas de pessoas e pedia pra tocar. As pessoas pensavam que eu era hippie. Mas em toda rodinha o pessoal ficava “velho, de onde ela saiu?”. Acho que eles esperavam menos entrega e eu fazia um show. E de graça! E eu aproveitava para falar para todo mundo que eu queria formar uma banda que se chamaria A Outra Banda da Lua. Eu já tinha o nome e queria ser vocalista. Então, uma menina da praça que andava de slackline me apresentou para o tio músico. E então eu conheci os meninos. Foram cinco anos de banda. (Marina também tocou outro projeto em grupo com a banda Rosa Neon). E eu aproveitei mesmo. Não pensava em mais nada, apenas em música experimental.  

O que você cresceu ouvindo? 

Tudo o que tocava nas rádios e na Globo. E tem o fato de Taiobeiras ficar a 40 minutos da Bahia. Por isso, a gente sempre escutou muito pagodão. O que rolava em Taiobeiras era pagodão baiano. Em meu aniversário de 13 anos, só tocou pagodão. Eu cresci ouvindo isso e axé.  

Além de intérprete, você é compositora. Como uma música chega para você?  

Normalmente eu componho com o violão. Começo a cantar um trem e faço uma música em meia hora. Se demorar mais, esquece. Primeiro crio a base e fico brincando até achar uma melodia chiclete. Quando encontro, vem o refrão. Depois, chegam as palavras, ainda sem sentido, e eu vou combinando os fonemas até tudo se encaixar.  

Você tem alguma referência para criar letras?  

Djavan, o maior hitmaker do Brasil. Quem discordar… (risos)  

"Ser uma diva pop não é algo que eu encarava como fora de mim. Já sou eu. Eu sempre fui assim. Mas não tinha dinheiro."

O seu trabalho tem uma carga visual muito forte. Existe alguma musa?  

Gal Costa é a minha maior referência. Conheci pelas trilhas de novelas e, depois, me aprofundei em sua história com a Tropicália. E que mundo vasto ela abriu! Me inspirou musicalmente e na maneira de me vestir. Acho que ela fez muito pelo Brasil, entregou tudo de mão beijada para a gente.  

Esse batom vermelho é uma marca registrada sua? Você tem sido um dos rostos da Quem Disse Berenice. O que você gosta de maquiagem?  

O batom vermelho me empodera demais! Quando eu me sinto cabisbaixa, vou lá e passo um batom vermelho. Dá aquele glow, você sobe! Gosto de maquiagem básica, que não pesa o rosto e me melhora sem engessar. Geralmente, esfumo o olho de leve e termino com o batom vermelho.  

Tem uma palavra que usam para descrever você geralmente que é “sensualidade”. Do registro da sua voz à maneira como você se apresenta. Você sempre lidou bem com o seu corpo?  

Não. Eu tinha pavor do meu umbigo. Colocava moeda com esparadrapo para ver se ele ficava para dentro. Não usava roupa que mostrasse a barriga. Só de maiô na praia e nunca de biquíni. E tem muita coisa que veio da percepção dos outros, de fora. Eu nunca tinha reparado que tenho pouco queixo, até as pessoas me falarem. Que paia, velho! Só que tudo mudou quando eu me entendi artista.  

E você tem esse fator cênico forte no ao vivo. O que o palco significa para você?  

Quando estou no palco, eu sou eu. Fico 100%. Ensaio tudo para o show. Tudo o que eu faço na minha vida é esperando o momento que eu vou subir no palco e cantar para as pessoas. É o melhor momento. É tipo “gozei”.  

O que a gente pode esperar para 2022?  

Olha, eu esperava que eu ia tranquilamente disseminar a palavra do meu disco, mas as coisas tomaram uma proporção tão grande (sua música "Por supesto" chegou a entrar na parada global do Spotify como uma das cinco músicas mais ouvidas do mundo, com mais de 30 milhões de streams, e viralizou no TikTok este ano) que vai ser muito mais. Esperem por apresentações na televisão e uns feats cabulosos, que eu vou contar depois.  

Daqui dez anos, onde você quer estar? 

Quero ser uma das representantes da música pop brasileira no mundo. Estar consolidada nesse lugar de quem fez história no Brasil e no mundo.  

Créditos

Beleza: Will Vieira
Produção de moda: Marco Antonio
Camareira: Rosangela Lino
Produção de arte e cenografia: Anderson Rodriguez
Assistentes de foto: Rodrigo Oliveira, Renato oso e Murilo Stabile
Assistente de beleza: Camila Hayasaka
Manicure: Thayna Dandara
Produção executiva: Isabela de Paula
Assistentes de produção executiva: Deise Cruz e Carlos Henrique
Tratamento de imagem: Bruno Rezende
Assistentes de vídeo: Isabella Barreto e Rafael Roberto
Som direto: Regis Oliveira
Trilha: Lucas Vidal